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Falta de legislação específica para o apoio a alunos com deficiência no ensino superior dificulta integração, dizem instituições. Quando um estudante com deficiência chega ao ensino superior, a instituição que o recebe tem pouca ou nenhuma informação sobre o seu passado. Os apoios que recebia ou o tipo de trabalho a que estava habituado são desconhecidos dos novos professores. A dificuldade de articulação entre as universidades ou politécnicos e as escolas secundárias é “um problema”, considera o coordenador-técnico do Gabinete para a Inclusão da Universidade do Minho, Carlos Barbosa, dificultando a integração destes alunos.
“Nenhuma instituição sabe que estudantes com necessidades especiais vai receber em cada ano”, constata a coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital do Instituto Politécnico de Leiria, Célia Sousa. Apesar de os alunos que entram através do contingente especial para estudantes com deficiência estarem identificados, há muitos outros que necessitam de apoio e entram pelo contingente geral. Esses são um grupo indiferenciado, que as instituições não têm como conhecer, a não ser que eles acabem por procurar a ajuda dos gabinetes de apoio. Mesmo para trabalhar com os estudantes com deficiência que entram pelo contingente especial, os serviços especializados encontram dificuldades. A inexistência de mecanismos de comunicação impede a informação de chegar às universidades e politécnicos. Quando os alunos aparecem com os seus problemas específicos, “é preciso montar soluções no momento, quando podíamos estar a antecipar as coisas, se esta articulação existisse”, diz Célia Sousa. “Não era difícil prever quais são os alunos do secundário que vão acabar por prosseguir estudos”, afirma a vice-reitora da Universidade dos Açores, Ana Teresa Alves. Defende que é necessário criar legislação específica para os apoios aos estudantes com deficiência no ensino superior. O Decreto-Lei n.º 3/2008 define os apoios aos estudantes com necessidades educativas especiais na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário. No entanto, o diploma legal não se estende ao superior, que não tem um quadro formal de enquadramento dos apoios aos estudantes com deficiência. Esta dificuldade é também detectada no diagnóstico sobre as pessoas com deficiência visual e auditiva publicado este ano por um grupo de investigadores da Universidade Aberta e da Fundação Calouste Gulbenkian. A falta de um normativo aplicável em específico ao ensino superior, diz o relatório, cria “na prática um certo 'vazio legal'” neste sector, o que leva universidades e politécnicos “a adoptar iniciativas avulsas, não concertadas entre si”. Salas de aula não estão preparadas Os gabinetes de apoios aos estudantes com deficiências têm-se generalizado no ensino superior público, mas persistem dificuldades nas respostas das instituições. O inquérito sobre os apoios concedidos aos estudantes com necessidades educativas especiais do ensino superior feito, há três anos, por Lília Aguardenteiro Pires, Ana Almeida Pinheiro e Valentina Oliveira, investigadoras da Universidade de Lisboa, revelou que metade das instituições de ensino superior não possuem um regulamento especial. Além disso, em 9% das universidade e politécnicos não é possível a realização de provas adaptadas nem são conferidas condições especiais para a realização de trabalhos ou provas de avaliação a estudantes com deficiência. Ao nível das infra-estruturas o cenário encontrado é ainda pior do que ao nível dos apoios à aprendizagem, com cerca de metade das salas de aula, salas de estudo e laboratórios e não estarem preparados na totalidade para receberem estudantes com deficiência. “Fazemos o melhor possível dentro das condições que temos”, diz Ana Teresa Alves. E lembra os cortes no financiamento público que as instituições sofreram nos últimos anos, que causaram problemas à sua gestão — a universidade que dirige está mesmo sob plano de recuperação financeira. Samuel Silva - PÚBLICO «https://www.publico.pt/sociedade/noticia/articulacao-com-o-ensino-secundario-e-um-problema-1745902»
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Será urgente proporcionar às crianças oportunidades de aprenderem a não se compararem com os outros, de usarem de um poder, que não sirva para mandar, mas para ajudar. Uma extrema prudência é necessária na criação de novas estruturas, dispositivos e atitudes, pois é um processo complexo que exige longa e perseverante aprendizagem. O Guardian publicou um estudo da London School of Economics, no qual se defende que o principal objetivo das escolas deve ser o de ajudar a criar pessoas bondosas e felizes. Para esse fim, talvez as escolas devam adotar um modo de funcionamento assente num relacionamento que eleja a estética da sensibilidade, estimulando o espírito inventivo no lugar da mesmice das aulas, habituando o jovem a conviver com o incerto em substituição da reprodução mecânica de um planeamento de professor. E, sobretudo, jamais separando o desenvolvimento da cognição do desenvolvimento da afetividade.
Podemos aprender sem dor. Bastará que a prudência seja posta no ato de educar. E, se a virtude pode ser ensinada, será mais pelo exemplo do que pelos livros. Será urgente proporcionar às crianças oportunidades de aprenderem a não se compararem com os outros, de usarem de um poder, que não sirva para mandar, mas para ajudar. Uma extrema prudência é necessária na criação de novas estruturas, dispositivos e atitudes, pois é um processo complexo que exige longa e perseverante aprendizagem. Escutemos o Mestre Agostinho: “O que importa não é educar, mas evitar que os seres humanos se deseduquem. Cada pessoa que nasce deve ser orientada para não desanimar com o mundo que encontra à volta. Porque cada um de nós é um ente extraordinário, com lugar no céu das ideias... Seremos capazes de nos desenvolver, de reencontrar o que em nós é extraordinário e transformaremos o mundo”. Na Finlândia, alunos são assassinados dentro da escola. Na Coreia, as autoridades educacionais estão empenhadas na desintoxicação do consumo de internet. Em outros países líderes do ranking do Pisa (Programme for International Student Assessment ou, em português, Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o índice de suicídio juvenil é assustador. No tempo em que trabalhei na universidade, prudentemente reagi às queixas de uma aluna, que estava prestes a reprovar. A moça, filha única e mimada, vitimizava-se, atribuindo a colegas a causa de todos os seus males, inventando conspirações e cruéis perseguições à sua pessoa. Certo dia, a aluna entrou na sala, chorosa, dizendo que iria se suicidar. Por prudência, não desdenhei (confesso que senti vontade...), mas, também por prudência, não me demiti, não me desviei da situação... E disse-lhe: "Isabel, vai até junto do mar, saboreia um pôr do sol. É gratuito, belo e diferente de dia para dia. Se, quando o sol se tiver posto, ainda tiveres intenção de te matar, tens ali o mar..." A Isabel não voltou a se queixar. Alguns anos decorridos sobre o episódio, recebi um e-mail: "Professor, fui junto do mar, ver o pôr do sol, como recomendou. Amo a minha profissão, tenho um marido maravilhoso e uma filha linda, linda. Obrigada. Muito obrigada." Se naquele fim de tarde, imprudentemente, eu tivesse dado ombro à Isabel, a teimosa continuaria a teimar na culpa alheia. Continuaria errando, no pressuposto de que um mundo astuto conspirava contra ela, que um mundo malvado era a causa do seu insucesso. O mundo cruel, que a Isabel inventara, impedia-a de viver pelo sentimento e agir pela razão. Foi preciso que alguém estabelecesse uma relação de autenticidade para que a Isabel passasse a usar de prudência nos seus juízos. A Isabel tinha tudo, mas vivia sem ter sido. Com a expansão das tecnologias digitais, cada vez mais seres humanos podem se comunicar. Mas as novas conexões têm-nos tornado prudentemente autênticos? José PachecoMestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto, foi professor da Escola da Ponte. Foi também docente na Escola Superior de Educação do IPP e membro do Conselho Nacional de Educação. JOSÉ PACHECO - Educare «http://www.educare.pt/testemunhos/artigo/ver/?id=114082&langid=1» já tenho 2 anos A essência da criança Ao momento em que a criança desenvolve uma consciência de si própria e do mundo que a rodeia chama-se categoricamente «nascimento psicológico». É a partir deste ponto que a criança está mais desperta para as suas capacidades: já anda, pensa com mais articulação, fala e tem sentimentos que desenham o seu mapa do mundo. Todas elas são marcas fundamentais na vida da criança, descobertas resplandecentes, verdadeiramente luminosas e repletas de brilho. Com o avançar da idade, no entanto, essas conquistas entram na rotina e existe o risco de caírem na monotonia. Se os adultos que a rodeiam olharem para estes avanços apenas como simples etapas do desenvolvimento, a criança pode ficar com a noção de que viver é só ter cada vez mais capacidades cognitivas, que lhe permitirão ser mais e melhor do que aquilo que é. O problema é que esta abordagem aniquila o mistério da vida, que se torna monótona e repetitiva. De parte fica a «essência da criança», a sua alma, o seu espírito, a pérola que existe dentro da ostra. Não se trata exatamente daquilo que a criança é, mas um reconhecimento de que é um ser mágico que transcende relações, em vez de se limitar a ser moldada por elas — um espírito que, por vezes, continua à procura de um horizonte onde possa aparecer um desejo existencial ou um fantasma que sempre o ilude. Quem trabalha com crianças deve procurar este lado que demanda a magia — é nele que reside um espírito que procura expandir a sua essência. Feridas narcísicas
As «feridas narcísicas» são cortes nos sentimentos, necessidades e desejos que a criança ansiou para si própria e em relação ao mundo. É algo que lhe causa sofrimento. Pode afetar a sua auto-imagem a ponto de interferir na capacidade que ela tem de se relacionar com os outros e com ela mesma. Ao não conseguir sentir em pleno, pode ter dificuldade em reconhecer o amor real que têm por ela — e isso é, nesta idade, tão temível como a morte. Para aliviar a dor, procura a todo o custo preencher o vazio. Isto pode acontecer mesmo com uma criança bem vinculada com os pais, que tem com eles uma relação forte e segura e que sabe que é amada. O corte é entre ela própria e a sua mente, prende-se com a dificuldade em sentir amor por ela mesma quando lhe é negado aquilo que ela desejou. Torna-se complexo reconhecer que ela própria é amor, ou sentir afeto por aquilo que sente. Por norma, a criança com acentuadas feridas narcísicas sofre com o vazio de «não ser», de não sentir, e traz no olhar uma melancolia provocada por essa impossibilidade de viver o amor que idealizou. Para compensar os sentimentos desagradáveis que surgem, como ciúme, raiva e deceção, é comum que crie uma fantasia. Umas procuram ocupar cada segundo do seu tempo e passam a vida a mexer-se. Há até quem lhes chame hiperativas, mas é um erro: uma coisa é a hiperatividade com causas genéticas e neurofisiológicas; a outra é uma criança que não dá descanso a si própria para não sentir a angústia que as tais feridas narcísicas provocam. Há também crianças que se isolam e se retraem, resguardando-se numa melancolia que acaba espelhada no olhar. Têm uma expressão distante e a atenção presa no horizonte, como se não quisessem dar demasiada importância ao mundo para não sofrerem. Os estados depressivos podem ser congénitos ou ser provocados pelo meio ambiente (ou ambos). No entanto, essa não é a questão fundamental. O mais importante é compreender a dor da criança em relação ao Referido «não sentir». Tanto para pais como para filhos, é difícil desfazer as idealizações e resistir à tentação de arranjar compensações para o «não sentir». O processo, por vezes longo e doloroso, faz sempre com que, no íntimo inconsciente de cada pai e de cada mãe, essas feridas possam ser saradas ou, pelo menos, remediadas. Abre-se então caminho à recuperação da capacidade de amar o outro de forma mais genuína, de ultrapassar o orgulho exacerbado (uma expressão da raiva narcísica) e de aceitar conviver com a nossa pequenez, ainda que ela seja apenas ilusória. Estar disposto a fazer um esforço para compensar essas feridas, tentando resgatar o tempo que se perdeu a procurar um ideal que não existe, pode trazer também alguma amargura. Humanizar o narcisismo exacerbado é tentar alinhar a consciência que temos de nós como um todo com a do nós real. Assim, é mais fácil alcançar o coração da criança. O dilema da interconexão emocional é este: «Preciso de sentir-me em ti para poder sentir-me a mim próprio. Mas não consigo sentir-me se não chegar a ti.» Não há clivagens — há, sim, um sentimento de necessidade do «nós» que transcende a consciência. Quando um elo se quebra nesta ligação, sente-se um vazio e teme-se o risco de sentir o «não ser». Escrito por Miguel Mealha Estrada (Psicoterapeuta da Infância e Adolescência) in "um mapa para chegar ao coração da criança" Regressão ao serviço da transcendência À beira de um precipício, só há uma maneira de seguir em frente: dar um passo atrás. (Gilbert Chesterton) Muitos pais, educadores e clínicos deparam-se frequentemente com um fenómeno misterioso que tanto afeta crianças ditas “normais” como outras que têm problemas de saúde mental. Trata-se de um retrocesso a estados mais caóticos, antes de se alcançar um certo nível de desenvolvimento do consciente e um nível de equilíbrio afetivo e emocional. Este fenómeno, muito conhecido entre psicoterapeutas e psicanalistas, se não for bem identificado e tratado pode reter a criança num estado de desagregação mental e comportamental sem explicação aparente, sobretudo se ocorrer num meio de um contexto em que tudo estava a correr bem. Muitos pais e clínicos, confusos com o que se passa, deixam-se contaminar pela ansiedade da criança e, em desespero, aumentam os castigos. Gera-se o pânico nos processos, com o perigo de perder o rumo ao coração da criança. Alguns terapeutas ainda contribuem mais para isso, ao propor intervenções baseadas em programas comportamentais fora do contexto ou na administração exagerada de certa medicação. No meio de tanto desnorte, é comum aparecerem conflitos entre pais e professores, que se digladiam na ânsia de descobrirem uma estratégia instantânea para resolver o problema. Só que navegar de noite sem um mapa costuma dar mau resultado. O que será então este retrocesso dos afetos e comportamentos a estados mais caóticos, sem razão aparente, quando tudo parecia ir no bom caminho? Para responder a esta questão é preciso entender os mecanismos de regressão ao serviço da transcendência, um período em que o ego (o centro do consciente) se retrai e afasta do mundo e da realidade. É como um corte na relação entre o consciente e o meio que nos rodeia, dando origem a um retorno e a uma fase em que os conflitos e fantasmas invisíveis ficaram por resolver. O psicanalista jungiano Michael Wahsburn chama-lhe “noite escura da alma”. Nestas fases de grande revolução, o melhor é contar com alguma instabilidade. Esta regressão tem como objetivo alcançar a fonte da essência e da espiritualidade da criança para resolver, ou pelo menos tentar reparar, o que ficou pendente no passado. Esses fantasmas só desaparecerão quando a criança os entender e conseguir lidar com aquilo que eles lhe querem transmitir. Para isso é necessário voltar à essência, ao pouco da espiritualidade da criança que ficou danificado, para tentar salvá-la, recuperando o casamento entre a essência e o consciente. Daí que se diga que esta regressão está ao serviço da transcendência – de uma espiritualidade maior que se quer alcançar. Aos poucos, a criança há de sair desse processo, reintegrando o seu novo ego, mais consolidado, para que se abram novas vias de expansão e se dê um novo sentido ao “eu”. Como é que sabemos que a criança está a regredir ao inconsciente? Há alguns sinais comuns no início desse processo. Surgem, com frequência, sentimentos de alienação e vaio interior, indícios de que a vida deixou de ter significado para ela, culpa, ansiedade, desespero e melancolia. Durante esta tempo, a criança desinteressa-se da vida, perde o prazer que tinha na realização de tarefas e dá cada vez menos valor à sua própria existência. É como se entrasse em exílio espiritual. No entanto, é precisamente esse passo regressivo que, depois de a obrigar a enfrentar fantasmas, a levará de volta a um contacto mais real co a sua essência e a sua espiritualidade. Frente e frente com sentimentos outrora reprimidos, que contêm um enorme potencial introspetivo, a criança tem acesso a revelações intuitivas profundas e a uma visão da vida orientada para o futuro. Por fim, vai encontrando algumas das respostas que procurava e descobrindo sentimentos revitalizadores que lhe trazem uma nova paz e um novo sentido para a vida. Há um claro crescimento espiritual que lhe permitirá estabelecer melhores relações com os outros e com o mundo. Quando chega o tão desejado fim da noite escura, os pais sentem que o seu filho voltou, reconhecem-no de novo, ainda que ele tenha crescido. A noite dá lugar ao dia e começa a renovação da psique da criança. O ego entra num período de convalescença, o espírito regenera-se. Se a criança não for compreendida na fase de regressão e os pais não conseguirem apoiá-la, o tempo da noite escura tende a prolongar-se. Por vezes, ela até é capaz de voltar, mas traz um sentimento de perda e um novo “eu” sem grande motivação e encantamento. É preciso estar ao lado e dar tempo a que a criança lide com os conflitos que a assombram. Regredir para regenerar não é fácil, mas tem um papel importantíssimo na estrutura individual de cada um. Notas em relação ao comportamento Quando muitos pais falam no comportamento dos filhos, referem-se a um conjunto de ações com determinados resultados. Muitas vezes, essas atitudes das crianças causam-lhes desilusão, frustração e até revolta, afastando-se de um padrão que eles idealizavam anteriormente. Antes mesmos de procurarem entender o que motiva a rebeldia dos filhos, buscam à pressa uma solução milagrosa que altere aqueles comportamentos, para que possam sentir-se melhor enquanto indivíduos, em casal e em família. Isso torna-se uma prioridade – com todo o direito, sobretudo quando ocorrem ações disruptivas que causam alarme e pânico. Note-se que há casos em que o comportamento da criança é tão violento que contribui para o divórcio dos pais e para uma perda de identidade de cada um deles. Há até casos em que até eles se tornam violentos e alteram a sua maneira de lidar com eles próprios e um como o outro, despertando as suas próprias fragilidades narcísicas. Frustrados e exaustos, muitos pais são incapazes de evitar que o comportamento dos filhos contamine as suas relações profissionais e de amizade, deixando-se invadir pelo desgosto e pela tristeza de não terem em casa a criança com que sempre sonharam. Há casos em que tanto os pais como os filhos internalizam as emoções uns dos outros: absorvem os sentimentos de angústia, desespero e raiva de todos os elementos da família. Aí torna-se muito mais difícil, para a criança e para os pais, atingir um patamar de equilíbrio. Quantas mães e pais sofrem ou já sofreram por não conseguirem controlar o seu próprio comportamento? Quantos sentiram raiva de si próprios por serem incapazes de conter atitudes descontroladas que os afastaram ainda mais dos filhos? Quantos reconheceram que o seu desequilíbrio deixou as crianças ainda mais desamparadas? É muito normal que estas situações ocorram e ninguém deve ter a arrogância de julgar os outros por isto. Mais importante é tentar compreender o que está na origem do mal-estar. Por vezes, é necessário começar por rever expetativas e ajustá-las à realidade. Depois, é fazer o mais importante de tudo: descobrir o caminho para o coração dos filhos. Conhecendo o passado comum e tendo conhecimentos básicos sobre o funcionamento do cérebro, aquilo que parece muito complexo pode, no fim, tornar-se mais simples. Os resultados compensam os esforços. Norte e Sul, dois hemisférios de um só planeta: o cérebro O nosso cérebro está dividido em duas metades, cada uma delas necessária para o funcionamento do organismo. Trabalhando em conjunto, contribuem para que possamos desempenhar cada tarefa que está ao nosso alcance. Certas partes controlam mais diretamente determinadas ações, mas precisam sempre das outras para que tudo corra como deve ser.
De forma simplista, o hemisfério esquerdo é o da lógica, da racionalidade e da linguagem. Adora pôr em ordem e sequência tudo o que vê, ouve e pensa. O direito, pelo contrário, decifra e emite sinais que tornam a comunicação possível, sejam eles expressões verbais, faciais ou tons de voz. Além disso, decifra sentimentos, dá amsi atenção ao universo que nos rodeia como um todo e à forma como interiorizamos as experiências da vida. Está muito ligado às emoções, às memórias históricas e pessoais que permitem recuperar sentimentos antigos e antecipar o futuro. Se cruzarmos as funções de cada hemisfério com a capacidade de adaptação que a criança tem às regras, podemos dizer que o lado esquerdo recorre à lógica para estabelecer normas. Quanto mais a criança cresce, mais tendência tem para o utilizar: aprende a analisar regras, classifica-as como entende e usa o que aprende para se relacionar com o mundo e para redefinir essas mesmas normas. Há pequenos sinais que dão conta de um peso cada vez maior deste hemisfério. À medida que a criança cresce, deixa de se desculpar dizendo: “Não fui eu”, para afirmar qualquer coisa como: “Mas aquilo estava lá, pensei que era meu…” O lado direito tem outra vertente: quer entender o contexto emocional das regras, emoções e experiências que ocorrem nas relações. O esquerdo preocupa-se com a razão que está por detrás da lógica, o direito com a razão do coração. É capaz de questionar: “Quando voltas? Estou com saudades…” Até aos 3 anos, por norma, as crianças usam mais este hemisfério como linha de orientação para navegar no mundo. Ainda não conseguem utilizar a lógica e a razão como facetas dominantes para comunicar aquilo que sentem. Embora antecipem algumas coisas do futuro e tenham em conta alguns pormenores do passado para compreender o presente, ainda vivem muito num determinado momento. Procuram a gratificação imediata e têm de desenvolver a resiliência para melhor lidar com as frustrações e saber esperar. Com o tempo, tornar-se-ão mais tolerantes, mas, por enquanto, essa é uma meta por alcançar. O desenvolvimento do hemisfério esquerdo há-de ajudá-las a usar a lógica para atenuar as emoções do direito. A partir dos 3 anos e meio, os pais são atacados por uma chuva de porquês. De um momento para o outro, as crianças querem saber tudo: o que é aquilo? Porque é que funciona daquela maneira? É um sinal inequívoco de que o lado esquerdo está em expansão, trazendo com ele a lógica na comunicação com os outros e a necessidade de aprender. Já sabemos o que fazem os hemisférios esquerdo e direito. Mas, no cérebro, há ainda uma metade superior e outra inferior. À de baixo chamamos tronco cerebral, onde fica o sistema límbico. Termina mais ou menos ao nível do nariz e controla funções como respiração, o sono e os circuitos emocionais de sobrevivência que nos detém ou fazem fugir, e que interferem com a raiva e o medo. Ali se despertam mecanismos automáticos e instintivos comuns à maioria dos animais vertebrados. Se nos irritamos e dizemos um palavrão, por exemplo, deixamos fluir a raiva e entrar em ação a impulsividade. Quando estamos na floresta à noite e ouvimos um barulho nos arbustos que estão perto de nós, ficamos alerta para perceber se há perigo. Estas são respostas da parte de baixo do cérebro. A de cima é diferente. O córtex, uma zona acastanhada, define-nos como espécie. É a mais avançada, a que nos permite pensar, planear, a que nos deixa desenvolver capacidades linguísticas, inibir comportamentos inadequados, desenvolver empatia, moralidade, etc.. Quando nascemos, esta parte do cérebro está menos desenvolvida do que a outra e cabe aos pais ajudar a criança a aumentar essas competências. Claro que haverá períodos críticos: ensinar os filhos a pensar no que fizeram e a controlar comportamentos indesejados pode ser um desafio. O córtex só está totalmente desenvolvido perto dos 25 anos. Mas para que é que serve tudo isto quando uma criança explode de raiva e faz uma birra? A má notícia é que não há uma fórmula única e mágica. Depende da dinâmica familiar, do contexto e da relação entre pais e filhos. Mas se tivermos noção de como começou a birra e de qual é o objetivo dela, podemos centrar chegar a um esboço generalizado de resposta para as famílias adaptarem ao seu próprio estilo. Nas birras provocadas pela parte dee cima do cérebro, as explosões são menos aparatosas não são automáticas, como as da metade interior. Só que têm um início premeditado – a criança decide fazer uma birra com o intuito de alcançar um objetivo. A estratégia para as conter deve passar sempre por manter a calma e explicar o que se está a passar. “Sim, sei que queres muito o chocolate mas, como estás a gritar dessa maneira, não pode ser. Lamento, filho, mas esta noite não há televisão porque não estás a conseguir parar com isso.” Nestes casos, é extremamente importante levar a palavra até ao fim e fazer cumprir a consequência prometida. Se a birra cessar imediatamente, os pais devem elogiar aao máximo: “Muito bem, assim é que é. Como conseguiste parar de gritar, logo à noite podes ver os desenhos animados de que mais gostas.” Esta atitude pode até parecer contraditória, mas tem consequências importantes a nível hormonal. Ao sentir-se orgulhosa por ter interrompido a birra, aceitando a consequência, a criança vai construindo uma nova sabedoria e uma força interna de que se valerá no futuro, em situações idênticas. Caso seja necessário castigar a criança, há que ser consistente e levar a punição até ao fim, sem a abandonar emocionalmente. A tristeza e a raiva devem ser aceites – são reações normais aao stress de ser impedido de ver televisão, por exemplo. O objetivo nãao é aumentar feridas narcísicas, nem impor regras demasiado rígidas, mas ensinar a regular o comportamento ccom respeito e empatia. Os pais têm de usar uma enorme habilidade para, em vez de absorverem a raiva, a frustração e a angústia dos filhos, compensarem as fragilidades deles com a maturidade dos dois hemisférios dos seus cérebros, contrabalançando o desequilíbrio da criança que passa por uma situação de stress. Na maioria dos casos, ela assimila o estado emocional dos pais inconscientemente e não pela lógica – até porque, nos primeiros anos, a parte de baixo é mais poderosa e desenvolvida do que a de cima. Do ponto de vista biológico, apostar na lógica e na imposição de regras para controlar birras e mudar comportamentos não dá grandes resultados. É mais útil se a criança tiver um ambiente estável, previsível e o dispuserem a dar-lhe apoio para ela se adaptar ao meio envolvente. A longo prazo, a criança há de interiorizar o modelo de funcionamento do mundo, sem que seja necessário impor-lhe muitas regras. Uma abordagem mais severa corre o risco de debilitar o sentido de coerência da criança, dificultando o processo. A solução passa por regular e adaptar, e não pela imposição. O exemplo começa em casa e deve prolongar-se na escola, contando com a fundamental coesão entre os pais. Por muito difícil que seja, o pai e a mãe precisam de deixar de procurar a mudança imediata de comportamento dos filhos que muito lhes agradaria. O mais importante na empatia emocional, aumentarão as hipóteses de ver nascer dentro de casa uma nova família, mais unida e equilibrada. Escrito por Miguel Mealha Estrada (Psicoterapeuta da Infância e Adolescência) in "um mapa para chegar ao coração da criança" Sociabilidade, comportamento e espiritualidade ao serviço da expansão do ser na pré-adolescência... A ciência mostra-nos cada vez mais que as emoções são como uma bússola que orienta as relações que temos com os outros e com o mundo. São a força motivadora que procura muito mais do que um sentido do bem e do mal. A partir da pré-adolescência, a atenção centra-se cada vez mais nas amizades e na importância que as interações com os pares têm no processo de individualização de cada um. Ao mesmo tempo que se aproximam dos amigos, os adolescentes tendem a sublinhar um distanciamento emocional e um conflito com os pais.
Ao relacionar-se mais com os colegas, o adolescente testa comportamentos e constrói a sua própria abordagem ao mundo. Há enormes diferenças na forma como cada um interage com o grupo de amigos: uns demonstram mais resiliência em relação a pressões, e exibem uma maior ação das regiões cerebrais mais associadas com a perceção e a capacidade de auto-reflexão. Estes têm mais facilidade em tomar decisões do que os mais vulneráveis. A pré-adolescência e adolescência caraterizam-se por grandes mudanças, emoções exacerbadas e importantes alterações hormonais – leptina e grelina, as que influenciam o crescimento, oxitocina e vasopressina, as que ajudam nas interações sociais, andam numa roda-viva por esta altura. Também circulam algumas hormonas associadas ao stress. Nesta fase, o confronto com emoções negativas constantes é quase inevitável. A uma sensibilidade aumentada juntam-se o receio de não ser aceite no grupo de amigos e expetativas que nem sempre são fáceis de cumprir. Também é normal que os pré-adolescentes procurem cada vez mais situações que os compensem e que invistam em fantasias e atitudes reais que lhes permitam atingir complexas metas sociais e interpessoais. As mudanças tornam-nos mais independentes da família e levam-nos a criar importantes laços sociais e até amorosos, mas trazem com elas o risco de desregulação emocional e comportamental. O mundo social do pré-adolescente é bem mais amplo, hierárquico e complexo do que o da criança. Aumentam as relações de amizade mais privadas e até exclusivas, criam-se laços mais íntimos e profundos, investe-se na confiança e aparecem os primeiros namoros. Por norma, os pré-adolescentes e os adolescentes organizam-se me grupos de três a dez elementos que se identificam uns com os outros, moldando assim as suas personalidades. O que são e o que imaginam que vão ser em função disso. Só que essas relações sociais são muito instáveis e esse pormenor reflete-se em casa. Os pais, surpreendidos, questionam-se: “Mas o que é que se passa? Qual é o problema dele?” Nesta idade, as fantasias internas são extremamente vivas e na mente dos pré-adolescentes assiste-se a uma luta constante entre aquilo que sonham e as regras e responsabilidades do dia-a-dia. Esta batalha pode prolongar-se pela vida inteira. O sonhador, a que diferentes ramos da psicanálise chamam puer aeternus (a criança eterna) anda em conflito permanente com o sentido de responsabilidade. A psicanalista Marie-Louise von Franz descreve algumas características de quem sofre demasiado com este complexo: “Puer aeternus significa ‘juventude eterna’ ou ‘criança eterna’, mas também serve para caraterizar traços de comportamento e da vida emocional de certo tipo de adolescentes/jovens (…) comportando-se de maneiras típicas, que eu gostaria de exemplificar da seguinte forma: geralmente, o adolescente/jovem/homem e mulher que que se identificam com o arquétipo de puer aeternus permanecem demasiado tempo na psicologia do adolescente. Isto é, todas as características normais de um jovem dos 11 aos 18 anos são continuadas ao longa da vida, muitas vezes com grande dependência da mãe. (…) Geralmente, existe uma grande dificuldade de adaptação a situações sociais que requerem determinação, foco e responsabilidade. Em alguns casos, há um tipo de individualismo atípico associado ao ser-se algo de especial, sem necessidade de adaptação, pois seria impossível para um génio ter tais requisitos humanos e assim por diante. Além disso, surge uma atitude arrogante para com os outros, muitas vezes devido a complexos de inferioridade e a falsos sentimentos de superioridade. Mais tarde, se acriança eterna se prolongar durante a adolescência, muitas dessas pessoas têm grande dificuldade em encontrar o trabalho certo, porque o que encontram nunca é exatamente o que eles queriam. Existe sempre “uma pedra no sapato”. A mulher nunca é a mulher certa, o marido também não. A namorada é agradável, mas… Há sempre um ‘mas’ que impede o casamento ou qualquer tipo de compromisso. Tudo isto leva à formação de uma neurose que H.G.Baynes descreve como “vida provisória”, isto é: uma atitude desconectada e um sentimento alienatório de que a mulher ou o homem ainda não são o que le ou ela realmente querem. Há sempre uma fantasia de que, nalgum momento, no futuro, a coisa real vai acontecer. Se essa atitude se prolonga, há uma recusa interna constante ao compromisso com o presente. Acompanhando esta neurose, em maior ou menor escala, existe um complexo de messias, que implica o pensamento secreto de que um dia ele próprio será capaz de salvar o mundo, que a última palavra em matéria de filosofia, religião, política, arte ou algo parecido será encontrada por ele. Isso pode progredir para uma típica megalomania, que conduz a vestígios cognitivos e emocionais de que “a sua hora ainda não chegou”. A única situação temida por estes homens e mulheres é serem obrigados a submeterem-se a qualquer coisa. Existe um medo terrível de se ser responsável por algo, de entrar completamente dentro do espaço e do tempo presentes, e de ser o humano especifico que cada um é. Há sempre o receio de ser comprometido numa situação à qual pode ser impossível escapar." Pré-adolescentes e adolescentes podem ser tão excessivamente egoístas e narcisistas como uma criança de 5 anos. Consideram-se o centro do universo e fazem tudo para alcançar gratificação e prazer. Nesta fase, dividem-se entre a curiosidade acerca do sofrimento e a devoção às suas paixões. Entram nas primeiras relações amorosas de forma apaixonada e põem-lhes fim com mesma intensidade. Por um lado, interessam-se cada vez mais pela vida da comunidade e querem fazer parte desse universo. Por outro lado, precisam de estar sozinhos no seu mundo. Oscilam entre a submissão total a uma figura real ou idealizada e a oposição constante a figuras autoritárias que ameacem a sua vontade de individualização. É aqui que se instala uma confusão relevante: os adolescentes não estão em permanente revolta contra a autoridade dos pais, mas sim em conflito com a frustração dos instintos, das pulsões das idealizações e sonhos que lhes permitiriam individualizar-se à sua maneira. Não importa quem se enfrenta, seja o pai, o professor ou a polícia. O que interessa é o choque em si. Os pais necessitam de apostar na capacidade de aceitação e na compreensão dos aspetos da personalidade de uma mente emergente. Mais do que paciência para enfrentar as atitudes contraditórias dos filhos, devem encher-se de coragem para encarar as frustrações e medos que restaram das suas próprias adolescências. Ultrapassando questões do passado, aceitarão que os filhos estão agora mais crescidos e têm uma identidade distinta da sua, ainda que partilhem com eles uma coletividade psicológica inquebrável. Escrito por Miguel Mealha Estrada (Psicoterapeuta da Infância e Adolescência)
A disponibilidade para contratar pessoas com deficiência é uma questão essencialmente cultural e que deve contar com Centros e/ou valências Reabilitação Profissional do setor público e privados competentes para apoiar a integração destes trabalhadores.
Universia Portugal «http://noticias.universia.pt/cultura/entrevista/2015/11/26/1134131/educacao-inclusao-diversidade-fundamental.html» Especialista nos direitos das crianças e mediação familiar estudou o impacto do divórcio nas famílias e na relação dos pais com as crianças Edward Kruk é presidente do Conselho Internacional da Parentalidade Partilhada e professor na Universidade British Columbia (Canadá). Investigador em Ciências Sociais e especialista nos direitos das crianças e mediação familiar, está em Portugal para participar na V Conferência Internacional Igualdade Parental Século XXI, hoje e amanhã, em Santarém.
Porque é que muitos homens deixam de ter contacto com os filhos após o divórcio? O meu primeiro trabalho, em 1985, foi sobre o impacto do divórcio quando não há guarda partilhada dos filhos e, precisamente, para perceber a razão pela qual tantos pais perdiam o contacto com as crianças. Dizia-se, nessa altura, que era porque não estavam interessados. Entrevistei cem homens, no Reino Unido e no Canadá, pais que perderam o contacto com os filhos e pais que mantiveram esse contacto. Fiquei surpreendido com algumas conclusões. O que é que mais o surpreendeu? Que os pais mais tradicionais, que estão menos envolvidos com a educação das crianças no pré-divórcio são os que mais facilmente se adaptam à separação e que mantém o contacto, mesmo sendo esporádico. Enquanto os pais que têm um maior envolvimento no acompanhamento das crianças antes da separação são os que mais dificilmente ultrapassam o divórcio e mais facilmente perdem o contacto com os filhos. Mas a primeira conclusão é que todos sofrem com a separação pelo facto de perderem o contacto diário com as crianças. A segunda é que há uma grande descontinuidade na relação pai/filho entre a fase pré e pós-divórcio. Parece uma contradição. Eu próprio esperava o contrário, que os pais mais envolvidos mantivessem maior ligação. Mas os que estão mais envolvidos, do ponto de vista emocional e psicológico, querem estar mais tempo com os filhos e lutar por isso, existindo uma maior probabilidade de perderem o contacto. Está assumido que as crianças ficam melhor com as mães e os pais têm muitos advogados a dizer-lhes que não têm hipóteses. Finalmente, conclui que há uma combinação de fatores estruturais, tanto no sistema legal como na resposta psicológica dos pais, mas dizer que estes não estão interessados é um estereótipo que não correspondem à verdade, isto em 1985. E agora? Fiz a mesma investigação 20 anos depois, desta vez apenas no Canadá. Conclui que os homens estão cada vez mais envolvidos no acompanhamento das crianças, o que complica as coisas. Complica? Sim, porque os tribunais continuam a ter uma prática que privilegia as mães em detrimento dos pais, isso não mudou significativamente. O que mudou foi a sociedade e o envolvimento dos homens, estão mais empenhados na educação e no cuidar das crianças, também porque as mães trabalham fora de casa, muito mais do que há 10/20 anos. Uma grande mudança é que toda a família trabalha fora de casa, é normal a mãe trabalhar e o pai cuidar da criança. Os pais têm uma relação forte com os filhos e querem manter essa relação, o que não se conseguem com as visitas ao fim de semana. Qual deverá ser a abordagem? Nos últimos dez anos tenho estudado as determinações legais após o divórcio, olhar para as diferentes possibilidades aplicadas pelo sistema judicial e as responsabilidades parentais partilhadas. A abordagem que se deve fazer é no sentido do interesse da criança, das suas necessidades, porque há fatores que ajudam uma criança num processo de divórcio e o mais importante é que esta mantenha os laços, as rotinas, as relações estreitas com o pai e com a mãe, As crianças precisam de ambos os pais. Os juízes justificam, muitas vezes, a entrega da custódia a um dos progenitores até para evitar conflitos. O que provoca é o contrário. Obviamente, que não estou a falar nas situações de conflitos extremos ou de violência doméstica, mas há uma maior probabilidade de existirem conflitos quando o pai e a mãe não partilham as responsabilidades parentais. Estes tendem a aumentar quando apenas um dos pais tem a custódia, há sempre a tentativa de se provar qual é o melhor pai, o que não é benéfico para a criança. Quando as crianças passam tempo igual com o pai e com a mãe, quando têm uma relação forte com ambos, estes protegem-na das situações de conflito e que pode existir na fase inicial do divórcio. Na perspetiva das crianças, e por várias razões, é melhor passarem tempo igual na casa da mãe e na do pai. Falou com as crianças? Também falei com as crianças, mas sobretudo porque nos últimos dez anos realizaram-se uma cinquentena de estudos comparando a situação das crianças cuja custódia foi entregue à mãe ou ao pai e na custódia partilhada. E todos estes estudos, em diferentes áreas e com diferentes metodologias, demonstram que a residência alternada é significativamente melhor para as crianças. A sociedade mudou muito? Mantém-se algumas evidências da investigação de 1985 mas a sociedade está em mudança e no sentido positivo, reconhece que o pai tem de ter um papel igual ao da mãe. Nos anos 80 do século passado ninguém falava do pai cuidador após a separação, não havia essa possibilidade. Agora, quando se questionam as pessoas sobre a partilha das responsabilidades parentais, 80% das mães e dos pais, talvez mais mães do que pais, respondem que a coparentalidade é a melhor opção. E, quando se questionam jovens adultos, filhos de casais divorciados, dizem que a residência alternada, tempo igual com a mãe e com o pai, é o melhor para eles, dizem que precisam de ambos os pais. O sistema judicial está a mudar à mesma velocidade? Não. Os homens são discriminados? Não é uma discriminação dos homens, é uma discriminação das crianças de famílias divorciados e contra a Convenção sobre os Direitos da Criança. Um juiz não pode tirar o pai ou a mãe da vida de uma criança, mas pode deixá-la ao cuidado de apenas uma mãe ou um pai numa situação de divórcio, isto é discriminação contra as crianças. Num casal não se pode anular a presença de um dos pais, a não ser que existam fortes razões como em casos de abusos, de negligência, violência, e nas famílias divorciadas facilmente se tira um destes elementos. Justificam-se muitas decisões, sobretudo nos tribunais, tendo em vista o superior interesse da criança. Isso não é verdade, é nonsense. Esse conceito depende da ideia que o juiz tem e cada juiz tem uma ideia. Os juízes não estão habituados a lidar com crianças ou têm conhecimentos da dinâmica familiar para perceber qual é o interesse da criança. Esse é um conceito muito complexo, além de que apela a estereótipos. Quando se questiona a criança, o que dizem é que querem estar com ambos os pais. Há aqui um conflito de género. Não. Também investiguei o impacto do divórcio nas mulheres, sobretudo as que não ficaram com a custódia dos filhos. Têm os mesmos problemas que os homens, sentem-se envergonhadas, humilhadas, tal como os pais que não ficam com a custódia. Quais são as diferenças entre os países? Nos EUA e, cada vez mais no Canadá, o sistema legal é dominante e veem o divórcio como uma oportunidade para criar rendimentos, 40% do tempo dos tribunais canadianos é gasto com as questões familiares, com a custódia das crianças. Nos países escandinavos, Bélgica, Holanda, especialmente a Suécia, em muitos países europeus mas também na Austrália, a guarda partilhada é a norma. Portugal penso que é mais tradicional, mas as coisas também estão a mudar. Céu Neves - DN «http://www.dn.pt/sociedade/interior/pais-mais-envolvidos-mais-facilmente-perdem-contacto-com-os-filhos-5201192.html» Há uns anos entrevistei várias mulheres no âmbito de um projeto de investigação sobre modalidades de conciliação da vida profissional com a vida privada. Do guião fazia parte a seguinte pergunta: “O seu marido ajuda-a em casa?”. Ainda hoje recordo uma resposta que achei genial: “Ajuda-me em casa!? Não! Em minha casa existe partilha. Ajudava-me se me lavasse os dentes ou se me vestisse. A casa é dos dois. As tarefas são dos dois!”
Trata-se realmente de uma expressão comum e que pressupõe, neste caso, que a tarefa de cuidar do lar é atribuída a um dos elementos do casal e que o outro generosamente coopera. Partilhar não significa identificar uma ou duas atividades e nomear a outra pessoa responsável. Não se trata de dizer “tu fazes as compras e cozinhas” e “eu lavo, estendo, dobro e arrumo a roupa, ponho a loiça na máquina, varro, aspiro e lavo o chão, ponho e levanto a mesa, faço a cama, limpo o pó a todas as divisões, sacudo as carpetes, lavo janelas e paredes, limpo os vidros, limpo o frigorífico e o fogão, troco as toalhas de banho e a roupa de cama, recolho os objetos espalhados pela casa, organizo o sótão, a dispensa, a roupa para doar, rego as plantas…” Partilhar é sentir o lar como um projeto do casal que deve ser gerido e cuidado com vista ao bem-estar e ao conforto da família. A negociação da distribuição das responsabilidades domésticas é uma das muitas dinâmicas que deve ser incluída na rotina do casal e que deverá contrariar espaços desiguais em desfavor de um dos elementos. Como diz Caetano Veloso “quando a gente gosta é claro que a gente cuida” um pensamento que deve contrariar a conveniência, a preguiça ou até mesmo o egoísmo. Os indicadores estatísticos demonstram que, ainda hoje, muitos homens se escudam nos papéis sociais tradicionalmente atribuídos ao género. Todavia, também muitas mulheres cumprem esse papel, encarando a esfera privada como um domínio que é delas ou como um “fardo” difícil de romper. Não irei aqui refletir sobre os fatores que estão na base desta questão. Aliás, seria difícil fazê-lo sem abordar contributos empíricos que desenvolvem e ilustram este tema. Parece um assunto simples, mas que está totalmente associado à divisão sexual do trabalho, tendo implicações diretas na gestão da conciliação e nas carreiras profissionais de homens e de mulheres. Não poderemos ainda esquecer que ao tempo necessário para a realização das tarefas domésticas acrescem as restantes responsabilidades familiares, sobretudo, os cuidados com crianças e adultos e, ainda, o conjunto de horas semanais dedicadas ao trabalho pago. Certamente será mais fácil (e justo) se todas as pessoas estiverem envolvidas e comprometidas. Deste modo, não considero que a partilha seja uma questão de sorte, porque estes homens são especiais e diferenciadores mas, pelo contrário, considero que os casais que não beneficiam dela, esses sim, têm azar! Com a partilha evitam-se conflitos e ganha-se mais tempo para a relação e para a família. Deve ser encarada como algo necessário e que simplesmente tem que ser feita! Joana Correia dos Santos - CAPAZES «http://capazes.pt/cronicas/o-meu-marido-ajuda-me-em-casa/view-all/» Vivemos em uma sociedade altamente competitiva em que parece que nada é suficiente. Temos a sensação de que se não colocarmos bateria nos filhos eles terminarão atrás, sendo barrados pelos melhores do que ele.
Por isso, não é estranho que nas últimas décadas muitos pais assumiram um modelo de educação sustentado na hiperpaternidade (pais helicópteros que não se cansam de voar sobre seus filhos, incessantemente). Trata-se de pais que desejam que seus filhos estejam preparados para a vida, mas não é no sentido da sorte do destino de cada um. É mais restrito: querem que seus filhos tenham o conhecimento e as habilidades necessárias para se realizar em uma boa profissão, conquistar um bom trabalho e ganhar o suficiente. Estes pais traçam uma meta: querem que seus filhos sejam os melhores. Para conseguir, não duvidam em apontar-lhes diversas atividades extraescolares, preparar o caminho até aos limites inacreditáveis e, por hipótese, conquistar o êxito a qualquer peço. E o pior de tudo é que creem que o fazem “por seu bem”. O principal problema deste modelo de educação dos filhos é a pressão desnecessária sobre os pequenos, uma pressão que termina tirando-lhes sua infância e esta atitude cria adultos emocionalmente fracos. Os perigos de empurrar os filhos ao êxito A maioria dos filhos são obedientes e podem alcançar os resultados que seus pais lhes pedem. Se as deixaram agir sozinhos serão capazes de conduzir seu pensamento autônomo e as habilidades naturais podem conduzi-los ao êxito verdadeiro. Se não lhes damos espaço e liberdade no seu próprio caminho quando lhes enchemos de expectativas, o filho não poderá tomar suas próprias decisões, experimentar e desenvolver sua personalidade. Pretender que os filhos sejam sempre melhores traz grandes perigos Gera uma pressão desnecessária que lhes retira a infância. A infância é um período de aprendizagem, mas também de alegria e diversão. Os filhos devem aprender de maneira divertida, devem errar, perder o tempo, deixar voar a sua imaginação e passar seu tempo com outras crianças. Esperar que as crianças sejam “os melhores” em determinada área – colocando sobre eles expectativas muito elevadas – somente fará que suas frágeis rótulas se dobrem ante o peso de uma pressão que não necessitam. Esta forma de educar termina arrebatando-lhes a sua infância. Provoca a perda da motivação essencial e o prazer Quando os pais se concentram mais nos resultados que no esforço, a criança perderá a motivação essencial porque compreenderá que conta mais o resultado que o caminho que está seguindo. Portanto, aumentam as possibilidades de que cometa fraude no colégio. Por exemplo, verá que não é tão importante que aprenda se a nota for boa. Da mesma maneira, vai concentrar-se nos resultados, e vai perder o interesse pelo caminho, e deixa de aproveitá-lo. A semente do medo e do fracasso O medo ao fracasso é uma das sensações mais limitadoras que podemos experimentar. E esta sensação está intimamente vinculada com a concepção que temos sobre o êxito. Portanto, empurrar as crianças desde cedo ao êxito desde pequenininho só serve para plantas neles a semente do medo ao fracasso. Como consequência, é provável que estes pequenos não se tornem adultos independentes e empreendedores, como querem seus pais. Serão pessoas que preferem a mediocridade somente porque têm medo de fracassar. A perda da autoestima Muitas das pessoas mais exitosas, profissionalmente falando, não são seguras de si. De fato, muitas supermodelos, por exemplo, dizem que estão feias e gordas, quando na realidade são ícones de beleza. Isto acontece porque o nível de perfeccionismo a que sempre são submetidas. Elas acreditam que nunca estarão em forma e que um pequeno erro na dieta será motivo para que as outras as vejam diferentes. As crianças que crescem com esta ideia se convertem em adultos inseguros, com uma baixa autoestima, e acreditam que não são suficientemente boas para serem amadas. Como resultado, vivem dependentes das opiniões dos outros. O que realmente deve saber uma criança? As crianças não necessitam de ser as melhores, somente necessitam ser felizes. Por isso, deve assegurar-se de que seu filho perceba: – Que é amado de forma incondicional e em todos os momentos; sem importar os erros que cometa. – Que está a salvo, que lhe protegerá, e a apoiará sempre que precisar. – Que pode fazer tolices, perder o tempo fantasiando e brincando com seus amigos. -Que pode fazer o que mais gosta e dedicar-se a essa paixão, sem importar de que se trata. Que pode passar o seu tempo livre pintando flores coloridas ou pintando gatos com seis patas se é o que lhe dá alegria, em vez de praticar a fonética e o cálculo. -Que é uma pessoa especial e maravilhosa, igual a muitas outras pessoas no mundo. -Que merece respeito e que deve respeitar os direitos dos demais. E o que deve fazer os pais? Também é fundamental que os pais percebam: – Que cada criança aprende no seu próprio ritmo, e não devem confundir o estímulo que desenvolve com a pressão que sufoca. Texto da psicologa Jennifer Delgado (Tradução livre) «http://www.portalraizes.com/criancas-precisam-ser-felizes-nao-de-serem-as-melhores/» Inúmeras vezes fiquei espantado por ver homens que se orgulham de professar a religião cristã, ou seja, o amor, a alegria, a paz, a continência e a lealdade para com todos, combaterem-se com tal ferocidade e manifestarem quotidianamente uns para com os outros um ódio tão exacerbado que se torna mais fácil reconhecer a sua fé por estes do que por aqueles sentimentos. O ódio como dispositivo de poder na era virtual A nossa é a era da partilha virtual. A democracia já está dada nesses rituais de partilha de todo tipo de informação, seja na forma de texto, fotografias, notícias, memes que transitam para todos os lados do ciberespaço e os demais espaços da vida. Quem acompanha minimamente as redes sociais, a televisão ou simplesmente anda nas ruas, percebe que o ódio se tornou uma espécie de sentimento banal que também é compartilhado como se fosse uma informação. E, de fato, o ódio foi veiculado como uma informação que deve ser repetida. O ódio, junto com a avareza, a inveja, a impaciência, o rancor e outros afetos negativos, transita assim nós sob uma estranha autorização nos mais diversos contextos, como se fosse algo comum. Isso quer dizer que o ódio não está sozinho. O ódio nunca vem sozinho, o ódio não é só ódio. O ódio é um sistema, um dispositivo de poder. É muito difícil medir sentimentos, emoções, afetos em geral. Só os conhecemos por suas expressões. Assim, seguimos observando e criticando, ou concordando e agindo em nome desses afetos todos que estamos chamando genericamente de ódio. É preciso saber que afetos não são naturais, que eles podem ser programados e projetados. Que podemos ser conduzidos a sentir isso ou aquilo. A publicidade não é, no contexto dos meios de comunicação, apenas a arte da propaganda que visa vender produtos, mas todo um sistema que captura, pesquisa e analisa como as pessoas se comportam do ponto de vista das emoções justamente para poder manipular essas emoções.O ódio não é deixado de lado nesse contexto. A conquista da cidadania – e a prática de sua arte – depende de não se deixar levar pelas emoções programadas. Aquele que desconfiar que o que vem sentindo não lhe pertence, que está sendo manipulado, pode se colocar uma pergunta urgente nesse momento: como nos tornamos seres capazes de lançar ódio – e todos os demais sentimentos complexos do seu dispositivo – contra os outros? Devemos realmente nos colocar essas perguntas de um modo bem simples: sentimos realmente esse ódio todo que vemos por aí? Esse ódio que sentimos, nos pertence? Por que aderimos ao ódio? Somos capazes de entender que compramos esse ódio genérico como quem compra uma substância no sistema publicitário dos meios de comunicação? Depois podemos nos perguntar, tendo em vista as ameaças que a democracia vem sofrendo, em que sentido o ódio contribui para o fim da democracia? Há ódio no gesto político, midiático e jurídico que nos conduz ao golpe? Odiar esse gesto de ódio não é uma saída que transforma o ódio em amor? Não seria isso o que estamos vendo no cenário atual? Não há uma reviravolta do ódio contra o ódio que nos parece um banho de afetos alegres, de amor político em cena nas ruas e nas redes? O cidadão caricaturizado Somos capazes de entender o ódio barato vendido pelos meios de comunicação e comprado por cidadãos que se deixam caricaturizar por meio dele? Ora, nos preparemos para compreender a longa pergunta que segue: o que é o sujeito que grita nas ruas com a camiseta da CBF contra a corrupção, o que é aquele que bate panelas nas janelas dos bairros de classe média alta onde mulheres trabalhadoras vem buscar o mínimo para sobreviver sob condições humilhantes, o que é a moça que ataca fisicamente um bispo conservador, o que é o terrorista de internet que xinga outros cidadãos virtuais de petralhas, comunistas, mas se esconde quando confrontado pela pessoa real, o que é aquele que mente na tela da televisão na hora do jornal nacional que deveria manter a dignidade da notícia como verdade, o que é aquele é aquele que pede pelo direito de não ter direitos, senão o cidadão que, na forma de uma caricatura, perdeu sua dignidade e com ela destruiu a própria cidadania? É preciso preocupar-se com o ódio certamente, mas muito mais com sua manipulação e seu efeito. Tudo o que a manipulação precisa é manter-se oculta no seu procedimento e fazer parecer que o ódio é natural. Que o ódio é natural como o amor. Mas o amor também não é natural. O amor se constitui historicamente, por meio de discursos e práticas das quais fazemos parte e que nos constituem. A democracia é o amor ao próximo O que a política tem a ver com isso? Ora, ainda que tenhamos ouvido a vida inteira que o poder corrompe, devemos saber que essa também é uma frase manipulada. Não seria o momento de colocar a questão da falta de poder que corrompe, do poder que corrompe porque fica nas mãos de uns e porque não é democraticamente compartilhado? Quem nos levou a crer que a política é algo abjeto? Quem nos levou a pensar que a política é um desprazer? Como fomos conduzidos a crer nisso? Certamente alguém que sabe que o poder é um prazer e que a política que dele depende é um prazer. Por isso, hoje, em que pese todo o esforço dos controladores e manipuladores meios de comunicação, o povo está nas ruas contra o golpe orquestrado desde o início do governo que, democraticamente, venceu as últimas eleições. Por que o povo descobriu o prazer do poder e, como povo, de um poder partilhado que já não é um poder no sentido tradicional. O povo está nas ruas contra o golpe porque descobriu que a política é um prazer. Que o prazer é tão grande quanto o amor e depende dele. Que sem amor ao próximo a democracia é impossível. Que a democracia pode ser compreendida como o sistema do amor ao próximo que não nega os demais afetos, mas que, amorosamente reúne os afetos, pensa neles, descobre sua potência, inclusive a do ódio. Que a democracia não se sustenta se não amarmos a democracia. Amar a democracia é não negar a existência do outro. É amar o próximo como sujeito de direitos. A democracia é boa para todos, é o único sistema em que todos, até mesmo os cidadãos caricaturizados por seus gesto bizarros e infelizmente, tantas vezes, monstruosos, de ódio ao outro e à própria democracia, só podem fazê-lo porque ainda estamos nela, mas corremos o risco de perdê-la se as forças inimigas da democracia, todas elas sem sendo de respeito, sem dialética, sem diálogo, vencerem. O cidadão que pede o fim da democracia, diz o que diz porque vive em um sistema democrático que permite a sua fala. O extremo da ditadura é o fim de toda expressão. O limite do respeito é o sinal de amor concreto ao próximo sem o qual voltamos, por ignorância, à guerra de todos contra todos. Nessa linha, investir no respeito como postura e nas medidas que o garantem me parece uma solução na urgência do momento. Blog Marcia Tiburi «http://revistacult.uol.com.br/home/2016/03/amor-ao-proximo-sobre-a-oferta-de-odio-generico-e-o-amor-a-democracia/» |