A educação por Viviane Mosé. A escola fragmentada, dividida em disciplinas e grades curriculares, e distante da vida dos professores e alunos, depara-se, a cada dia, com um mundo que faz perguntas cada vez mais globais e urgentes, como a necessidade de considerar o todo, o planeta, a cidade. Quais os desafios da educação no mundo contemporâneo?
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Alunos que chumbaram no 9.º ano têm piores desempenhos nos testes PISA do que os colegas que nunca ficaram retidos. No nosso país, os melhores alunos são os que mais trabalham fora do horário escolar. Os alunos, as escolas e o país. E foi com base nestes três eixos que o Projeto aQeduto, que junta o Conselho Nacional de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, se debruçou sobre os resultados dos alunos portugueses nos testes PISA, sobretudo dos exames realizados em 2012. Neste ano, não há grandes diferenças entre os resultados obtidos nos três domínios avaliados – Leitura, Matemática e Ciências – dos jovens de 15 anos. Cenário idêntico na generalidade dos países que aplicam estes testes que avaliam conhecimentos.
Setenta por cento das escolas portuguesas ultrapassam um resultado acima da média, de 500 pontos, em pelo menos um domínio avaliado no PISA de 2012. É na Matemática que menos escolas obtêm o seu melhor resultado, enquanto a Leitura ocupa o primeiro lugar com 37% dos estabelecimentos de ensino a registar maior competência dos seus alunos nesta área. Todas as escolas inseridas em meios sociais muito favorecidos têm, pelo menos, um domínio com desempenho médio acima de 500. “No entanto, o que é realmente de destacar é que 59% das escolas inseridas em meios muito desfavorecidos e 77% das escolas localizadas em meios sociais de nível moderado conseguem ultrapassar estes valores de referência em pelo menos um dos domínios”, lê-se no projeto. Em Portugal, os alunos muito bons trabalham cerca de três horas semanais a mais, o que significa a maior diferença entre os países observados. “Os alunos ‘muito bons’ a Matemática tendem a trabalhar o mesmo número de horas que os ‘muito bons’ a Leitura e a Ciências, até porque são com frequência os mesmos indivíduos”. Em relação a esta matéria, ou seja, ao número de horas de trabalho fora da escola – TPC, explicações, trabalho com os pais e trabalhos de pesquisa – verifica-se que há uma grande dispersão entre países e níveis de alunos. Em Portugal, são os melhores alunos que mais trabalham fora do horário escolar. Na Finlândia, há menos trabalhos após o horário escolar e exige-se um pouco mais de esforço aos alunos mais fracos. Na República Checa, na Dinamarca, na Suécia e na Polónia, pede-se mais trabalho extra aos alunos com piores resultados. As raparigas continuam a ter melhores desempenhos a Leitura, os rapazes tendem a ser ligeiramente melhores a Matemática, e em Ciências não há diferenças assinaláveis nos testes PISA de 2012. Estas são as tendências, mas há exceções. As raparigas têm um desempenho muito superior ao dos rapazes na Leitura e, no nosso país, essa diferença é expressiva: a média dos rapazes é muito baixa, apenas com a Suécia abaixo desses resultados. As raparigas de todos os países ultrapassam a fasquia dos 500 pontos, na Finlândia essa diferença é mais acentuada, e apenas os rapazes irlandeses superam os 500 pontos na Leitura. A tendência inverte-se na Matemática. Os rapazes têm, regra geral, scores médios no PISA mais favoráveis do que as raparigas. Mas não é assim em todos os países. Na Suécia e na Finlândia, os resultados são similares nos dois sexos, o Luxemburgo destaca-se com 25 pontos favoráveis aos rapazes. Só na Finlândia é que as raparigas são melhores a Matemática do que os rapazes. Nas Ciências, o panorama é mais equilibrado e não há distâncias significativas entre rapazes e raparigas. Perseverança e trabalho Os alunos que já chumbaram no 9.º ano têm, em quase todos os países, piores desempenhos do que aqueles que nunca ficaram retidos. E isso acontece em todos os domínios avaliados. Portugal evidencia-se pelo acentuado desfasamento, tal como a Finlândia. No nosso país, essa diferença é maior na Matemática com um desnível de 64 pontos, na Leitura e nas Ciências são cerca de 50. Há, porém, que ter em consideração que em Portugal chumbam mais alunos do que na Finlândia, numa proporção de 34% para 4%. Os alunos que ficam retidos continuam com dificuldades em todas as áreas e, portanto, há conclusões a tirar. “Chumbar não parece contribuir para que os alunos melhorem as suas aprendizagens em nenhuma das literacias avaliadas”. A Holanda surge como um exemplo especial, já que os alunos que chumbaram não ficam um ano atrás, uma vez que o sistema permite que continuem o seu percurso com os colegas da mesma idade. “Apenas 4% dos seus alunos estão no 9.º ano, sendo que a percentagem de chumbos é de cerca de 28%”, lê-se no documento. Os alunos bem-sucedidos são perseverantes. Não desistir perante dificuldades, obstáculos, situações adversas é então o caminho para alcançar melhores resultados, seja qual for a área avaliada - com tendência para ser mais importante nos bons resultados a Matemática. Portugal não foge à regra: a perseverança é um atributo com peso para todas as disciplinas. A Finlândia é o país onde a perseverança mais se associa a melhores resultados, sobretudo a Matemática, enquanto na Holanda essa característica “parece ser pouco relevante e a sua relação com os resultados é muito baixa em todos os domínios”. Sara R. Oliveira - EDUCARE «http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=114924&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+educare%2FIwFP+%28Not%C3%ADcias+Educa%C3%A7%C3%A3o+-+Educare.pt%29» |