Os métodos educativos da Universidade Sénior Contemporânea do Porto (USC) servem de inspiração em Espanha. A Universidade Sénior Contemporânea do Porto não será certamente a instituição mais conhecida da cidade, e muito menos de Portugal, mas o seu modelo de ensino já não passa despercebido além-fronteiras. Algumas universidades seniores em Espanha estão a encontrar inspiração nesta instituição portuense. O projecto educativo começou em 2005 pelas mãos de um casal, Marta Loureiro e Artur Santos, e passados dez anos a vontade de aplicar modelos de ensino inovadores no panorama das instituições seniores não tem diminuído. O dinamismo da USC tem captado as atenções internacionais. “A ideia de não permanecer no comum” é o que tem levado a direcção a apostar nas novas tecnologias, como um canal de televisão online ou a criação de uma plataforma de Moodle, de ensino pela Internet, para o próximo ano lectivo. Os manuais feitos por professores da “casa” são um dos exemplos de que a novidade não é indiferente a outras instituições de ensino, como a Universidade de Vigo, em Espanha. A importância do ensino personalizado foi a principal razão para a criação de material próprio, os professores criam conteúdos para os livros consoante as disciplinas e aceitação tem sido boa, por parte de alunos e de profissionais. O interesse das universidades seniores espanholas tem valido convites e parcerias à Universidade Sénior Contemporânea do Porto. A participação em conferências, estudos e eventos científicos tornam o “trabalho proveitoso para os alunos” em parcerias tão diversificadas como a Universidade de Santiago de Compostela ou de Salamanca, explica Marta Loureiro. O facto de os directores terem estudado em Espanha constituiu uma importante base para o interesse espanhol por esta universidade sénior do Porto. “Já existia um modelo de universidade sénior em Espanha, mas agora estão a inspirar-se no da nossa universidade, onde são tidas em conta as especificidades do público alvo. Eu e o Artur fizemos parte da nossa carreira académica em Espanha, acredito que isso também tenha importância”, acrescenta Marta Loureiro. E porque a crise é uma inimiga de (quase) todas as instituições, há que encontrar novas medidas para reabilitar as instalações da universidade, até porque as rigorosas condições meteorológicas do Inverno têm danificado certos espaços. “A ideia de crowdfunding surgiu na criação de um vídeo institucional, mas vamos apostar neste método para a melhoria do espaço”, acrescenta a mesma responsável. O melhor talvez seja assistir a uma aula, “a mais concorrida da universidade”, como alguns apregoam: é a de Inteligência Emocional, do professor Vítor Fragoso. A viagem do professor até Moçambique justifica o “mergulho” na cultura e sons do país. Vítor Fragoso tem noção de que a sua disciplina é importante: ajuda os alunos “a educar as emoções”, numa fase da vida sujeita a mudanças e provações. “Existe um turbilhão de emoções, do ponto de vista físico e psíquico. A transição da vida activa para a aposentação leva-os a questionarem o seu papel na sociedade”, explica o professor. O interior de uma sala de aula contrasta com o que muitas vezes se espera de uma universidade sénior. O ambiente é agitado e o burburinho lembra os tempos de uma escola secundária. A universidade oferece um pouco de tudo e tem no factor humano um aliado precioso. “Somos uma família e fazemos questão de que assim seja. As pessoas sentem-se em casa, porque estão num ambiente de entreajuda, bem-estar e conhecimento”, afirma Marta Loureiro, directora-geral da instituição. Esta é a última aula do ano lectivo e os alunos, como não tiveram oportunidade de dar os parabéns a Vítor Fragoso em Abril, preparam-lhe um lanche surpresa para o final da lição. “É uma excepção. Não são todos os dias assim”, garantem ao PÚBLICO. Os “91 anos e 10 meses” de Porfírio Mendes de Oliveira identificam-no como o mais velho, mas desengane-se quem pensa que a juventude lhe é alheia. Tem na literatura uma das suas paixões, e não é amador. “Já publiquei cinco livros. Gosto mais de prosa, porque é mais o meu género. Conto o que sinto.” Até hoje não há lugar para arrependimentos, só para amigos. Assume a idade sem medos e consciente de que os seus 91 anos estão repletos de histórias. “O espírito dos alunos é mais o de contar do que o de sugerir. Temos tantas vivências e tão ricas que o nosso objectivo é transmitir mensagens a quem vai chegando à nossa idade”, afirma Porfírio. PÚBLICO Rita Neves Costa 05/07/2015
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Associação de Professores de Português, de que fazem parte autores do programa revogado, considera que os objectivos do actual se afastam do essencial. No novo programa da disciplina, há quase mil metas a cumprir. Filomena Viegas, da direcção da Associação de Professores de Português (APP), comentou a homologação do novo programa de Português e das metas curriculares para o Ensino Básico nesta sexta-feira, dizendo esperar “que os professores tenham o bom senso de não o seguir de forma acrítica”. “Procurar que as crianças atinjam as quase mil metas e os respectivos descritores, tal como estão formulados, é pôr de lado aquilo que deve ser essencial, a aprendizagem das crianças e embarcar na obsessão do que pode ser treinado, quantificado e medido com exames”, criticou. A professora, que é uma das autoras do programa de 2009 (revogado pelo actual Governo), considerou que “do período de discussão pública” sobre o que agora foi homologado "apenas resultaram alterações cosméticas”. “Como a APP previu, o processo serviu apenas para adaptar o enquadrar e manter às metas curriculares introduzidas em 2012 que são desadequadas e contribuem para o aumento da taxa de retenção dos alunos”, lamentou. Na introdução ao novo programa , que entra em vigor no próximo ano lectivo, pode ler-se que as metas curriculares, com as quais os conteúdos do programa agora “estão profundamente articulados”, “definem, ano a ano”, os objectivos a atingir. E ainda que quer estes quer os descritores de desempenho (enunciados precisos e objectivos do que se espera que o aluno seja capaz de fazer no final do ano lectivo) são “avaliáveis” e “foram seleccionados e elaborados no sentido de permitirem que cada um deles seja objecto de ensino explícito e formal”. “Qualquer pessoa entenderá que estabelecer metas anuais, objectivas e mensuráveis para cada ano de um ciclo de ensino é desadequado e favorece a retenção, porque não permite a flexibilização do currículo e dos programas ou a recuperação de aprendizagens menos conseguidas”, considera Filomena Viegas. 25 pseudo-palavras por minuto Da “aberração” que, na sua perspectiva, "são alguns dos objectivos", a professora aponta como exemplo a exigência de que no fim do 1.º ano a criança saiba ler “correctamente, por minuto, no mínimo, 25 pseudo-palavras”. “Ler pseudo-palavras, palavras que não existem na língua portuguesa mas que podem ser pronunciadas – como “falim”, “larar”, “alemar”, “pratila”, “tenfa” etc - é um exercício que já se fazia, mas obrigar crianças de seis anos ler alto 25 pseudo-palavras, de cronómetro na mão, e avaliá-las por isso, é, no mínimo, ridículo. Só serve para desviar o ensino do essencial”, afirmou. A recentemente criada Associação Nacional de Professores de Português (Anproport), que tem a coordenadora e vários autores do novo programa nos respectivos órgãos dirigentes, não tem uma posição definida sobre este assunto. Segundo o presidente, Fernando Nabais, a implementação do programa será acompanhada (e posteriormente avaliada) por um grupo de trabalho do qual não farão parte, “por vontade própria”, as pessoas que estiveram envolvidas na sua elaboração. PÚBLICO Graça Barbosa Ribeiro 04/07/2015 |