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Será urgente proporcionar às crianças oportunidades de aprenderem a não se compararem com os outros, de usarem de um poder, que não sirva para mandar, mas para ajudar. Uma extrema prudência é necessária na criação de novas estruturas, dispositivos e atitudes, pois é um processo complexo que exige longa e perseverante aprendizagem. O Guardian publicou um estudo da London School of Economics, no qual se defende que o principal objetivo das escolas deve ser o de ajudar a criar pessoas bondosas e felizes. Para esse fim, talvez as escolas devam adotar um modo de funcionamento assente num relacionamento que eleja a estética da sensibilidade, estimulando o espírito inventivo no lugar da mesmice das aulas, habituando o jovem a conviver com o incerto em substituição da reprodução mecânica de um planeamento de professor. E, sobretudo, jamais separando o desenvolvimento da cognição do desenvolvimento da afetividade.
Podemos aprender sem dor. Bastará que a prudência seja posta no ato de educar. E, se a virtude pode ser ensinada, será mais pelo exemplo do que pelos livros. Será urgente proporcionar às crianças oportunidades de aprenderem a não se compararem com os outros, de usarem de um poder, que não sirva para mandar, mas para ajudar. Uma extrema prudência é necessária na criação de novas estruturas, dispositivos e atitudes, pois é um processo complexo que exige longa e perseverante aprendizagem. Escutemos o Mestre Agostinho: “O que importa não é educar, mas evitar que os seres humanos se deseduquem. Cada pessoa que nasce deve ser orientada para não desanimar com o mundo que encontra à volta. Porque cada um de nós é um ente extraordinário, com lugar no céu das ideias... Seremos capazes de nos desenvolver, de reencontrar o que em nós é extraordinário e transformaremos o mundo”. Na Finlândia, alunos são assassinados dentro da escola. Na Coreia, as autoridades educacionais estão empenhadas na desintoxicação do consumo de internet. Em outros países líderes do ranking do Pisa (Programme for International Student Assessment ou, em português, Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o índice de suicídio juvenil é assustador. No tempo em que trabalhei na universidade, prudentemente reagi às queixas de uma aluna, que estava prestes a reprovar. A moça, filha única e mimada, vitimizava-se, atribuindo a colegas a causa de todos os seus males, inventando conspirações e cruéis perseguições à sua pessoa. Certo dia, a aluna entrou na sala, chorosa, dizendo que iria se suicidar. Por prudência, não desdenhei (confesso que senti vontade...), mas, também por prudência, não me demiti, não me desviei da situação... E disse-lhe: "Isabel, vai até junto do mar, saboreia um pôr do sol. É gratuito, belo e diferente de dia para dia. Se, quando o sol se tiver posto, ainda tiveres intenção de te matar, tens ali o mar..." A Isabel não voltou a se queixar. Alguns anos decorridos sobre o episódio, recebi um e-mail: "Professor, fui junto do mar, ver o pôr do sol, como recomendou. Amo a minha profissão, tenho um marido maravilhoso e uma filha linda, linda. Obrigada. Muito obrigada." Se naquele fim de tarde, imprudentemente, eu tivesse dado ombro à Isabel, a teimosa continuaria a teimar na culpa alheia. Continuaria errando, no pressuposto de que um mundo astuto conspirava contra ela, que um mundo malvado era a causa do seu insucesso. O mundo cruel, que a Isabel inventara, impedia-a de viver pelo sentimento e agir pela razão. Foi preciso que alguém estabelecesse uma relação de autenticidade para que a Isabel passasse a usar de prudência nos seus juízos. A Isabel tinha tudo, mas vivia sem ter sido. Com a expansão das tecnologias digitais, cada vez mais seres humanos podem se comunicar. Mas as novas conexões têm-nos tornado prudentemente autênticos? José PachecoMestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto, foi professor da Escola da Ponte. Foi também docente na Escola Superior de Educação do IPP e membro do Conselho Nacional de Educação. JOSÉ PACHECO - Educare «http://www.educare.pt/testemunhos/artigo/ver/?id=114082&langid=1»
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