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Não serão edifícios escolares um fator de peso a considerar na multiplicidade de causas do insucesso escolar? No dia 30 de setembro, no Centro Escolar de Rebordosa (Paredes), as aulas decorreram no recreio, devido ao calor excessivo que se fazia sentir nas salas, tal como vinha sucedendo nos cinco anos de vida do edifício, inaugurado em 2011, segundo noticiou o Jornal de Notícias. De acordo com a notícia, este protesto recebeu o apoio de pais, professores e diretor do Agrupamento de Escolas de Vilela, na medida em que as paredes de vidro, sem janelas que possam ser abertas, transformavam as salas de aula em estufas com temperaturas que chegavam a ultrapassar os 30 graus, prejudicando as condições de trabalho e de aprendizagem.
O caso relatado tornou público um problema sentido em muitas escolas do país. Quantas escolas têm as mesmas características desta? Escolas com paredes totalmente de vidro e janelas com abertura muito limitada, em que a grande exposição ao sol faz com que este as transforme em estufas, mesmo no inverno. Com que conforto se pode estar dentro das salas? Como pode haver atenção e concentração fatores indispensáveis para a aprendizagem? E a indisciplina não encontrará no desconforto um aliado considerável? E o que dizer da preservação da saúde? Constipações, gripes, problemas respiratórios, alergias diversas não encontrarão terreno propício nessas salas excessivamente quentes e abafadas, onde os raios solares entram sem convite e se estendem com mais ou menos intensidade, conforme a altura do ano? Não serão edifícios deste tipo, ainda, um fator de peso a considerar na multiplicidade de causas do insucesso escolar? A colocação de ar condicionado a breve prazo era, segundo a notícia referida, a solução apontada pelos autarcas responsáveis pela escola em questão. Entretanto, cinco anos decorreram. E o que se passará nas outras escolas com idêntica estrutura? Por outro lado, questiono a pertinência de se optar por um tipo de edifício que carece de ar condicionado, solução pouco económica e também geradora de problemas de saúde. Porquê escolas de vidro, se existem materiais de construção que isolam eficazmente o calor e o frio, proporcionando conforto com poupança de energia para aquecimento e arrefecimento? Sem a pretensão de ser exaustiva, avanço outras questões importantes na conceção dos edifícios escolares, que nem sempre são devidamente acauteladas: - A existência de luz natural, a possibilidade de controlar a luminosidade, as condições de arejamento, o isolamento sonoro, mobiliário de proporções adequadas ao tamanho dos alunos: estas são algumas condições físicas das salas de aula essenciais para assegurar um ambiente favorecedor da aprendizagem e respeitador da saúde de quem habita a escola. - Os laboratórios, as salas de Educação Visual ou de Educação Musical, os ginásios, as bibliotecas e outros recintos especializados precisam de estar equipados com tudo o que é necessário e ter uma organização do espaço adequada aos fins de modo a proporcionar funcionalidade e segurança. - Há escolas com vários ciclos de escolaridade, habitadas por estudantes com grande diferença de idades e de tamanho. Como garantir áreas de recreio múltiplas e acolhedoras para atividades variadas (jogos de bola, grupos de conversa, etc.) e uma gestão das mesmas que providencie, aos mais novos, o usufruto dos espaços com segurança e sem um permanente receio dos mais velhos? - Em suma, a escola é a segunda casa das crianças, como ouvimos dizer muitas vezes. Numa casa, na nossa casa, precisamos de nos sentir respeitados e acarinhados na nossa individualidade, considerados como pessoas e não como números. Precisamos de nos sentir em segurança e em conforto para nos identificarmos intimamente com o espaço e construirmos com ele uma relação de pertença. Como garantir estes desígnios sem ter em conta, entre outros, os aspetos anteriormente referidos e, particularmente, em megaescolas com largas centenas de alunos? Em Rebordosa, aulas fora de muros permitiram ver para dentro das salas aquilo que os vidros pareciam não deixar transparecer. Quando olharmos para uma escola, não devemos quedar-nos no seu aspeto estético. A história de Rebordosa ajuda-nos a alargar o nosso guião de análise com outros parâmetros e a lembrarmo-nos de que aqueles que habitam a escola devem ser cuidadosamente considerados e ter uma palavra imprescindível a dizer na hora de a construir, reconstruir ou melhorar. Armanda Zenhas - EDUCARE «http://www.educare.pt/opiniao/artigo/ver/?id=116168&langid=1»
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