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O espanhol Javier Urra aconselha os pais a imporem regras para não terem filhos tiranos. Poucas, mas para cumprir. Javier Urra é o pai de O Pequeno Ditador, publicado em 2007, pela Esfera dos Livros. Nove anos depois, O Pequeno Ditador Cresceu e por causa dele, o psicólogo e professor da Universidade Complutense de Madrid, regressou a Lisboa para falar do novo livro, mas também do seu programa clínico recURRA Ginso, um campus a alguns quilómetros da capital espanhola que recebe adolescentes e jovens já em fim de linha. Aqueles que não vão à escola, têm problemas de toxicodependência ou que batem nos pais e irmãos.
O livro começa precisamente pelo trabalho que é feito no centro em Brea del Tajo, a 69 quilómetros de Madrid, com exemplos concretos de jovens que batem nos pais, sobretudo nas mães; que impõem a sua lei. Urra foi o primeiro provedor de menores em Espanha, recorda que em 2007 registaram-se 2683 casos de denúncias de maus tratos de filhos a pais, e que dois anos depois eram já 5201. Cerca de 70% dos agressores são consumidores de drogas , mas não são os únicos. E, por isso, o resto do livro agarra na criança desde o seu nascimento, de maneira a dar pistas práticas aos pais para que a eduque de forma a não chegar a ser uma ditadora. Há nove anos entrevistei-o por causa de O Pequeno Ditador, onde dava muitos conselhos aos pais sobre como educar com regras. Agora, O Pequeno Ditador Cresceu, significa que ninguém o leu? Foi em 2007 e os pais leram o livro, em Portugal saíram 33 mil livros, vai na 18.ª edição. Agora escrevo para outros pais, outra geração. Apesar de ter um título semelhante, este livro saiu por outras razões. Porque em Espanha, criámos o programa recURRA Ginso [em 2011], que tem 102 profissionais, 95 jovens internados e mil casos em ambulatório – 65% são rapazes e 35% raparigas com idade média de 16 e meio. Sabemos que 20% tem problemas de transtorno de personalidade, alguns com problemas de hiperactividade e défice de atenção; e 28% dos pais também tem transtornos psicológicos severos. Os restantes são um problema educativo e social. A culpa é da sociedade? Sim, da escola, da televisão, dos meios de comunicação em geral, da Internet… Em dez anos muito mudou e os jovens recebem mensagens diferentes, da sociedade e dos pais. Além disso, passámos por uma situação económica difícil e em Portugal e em Espanha nascem menos crianças. Por isso, os pais converteram a educação num espaço em que as crianças não podem sofrer, estão sobre protegidas. A criança aprende que só tem direitos e não tem deveres e os pais não lhe explicam que também tem deveres. E, por isso, quando crescem, vemos que temos jovens que não vão à escola, estão sozinhos em casa, fumam marijuana… Estes são os casos que chegam ao centro. Em 75% temos êxito, mas este existe porque trabalhamos com os pais e com os filhos. Fazemos terapia individual, de pares, de grupo e de família. Sabemos que os pais ganham novas ferramentas e os filhos também. Os pais choram porque amam os seus filhos; estes também choram quando estão sozinhos ou à noite, porque também querem aos seus pais. Por isso lhe chamo a “patologia do amor”, querem amar-se mas não sabem. São poucos os pais que educam bem? Não. São muitos, mas os filhos são diferentes. Por exemplo, tens quatro filhos e os dois primeiros dizem bem dos pais, o último também e o terceiro não. E o problema é com o terceiro. Mas os pais educaram todos por igual, mas há um filho que não se sente querido. Em Portugal faz sentido ter um centro como o espanhol? Nós queríamos montar um. Em Espanha fizemo-lo com o apoio do Ministério da Saúde que financia parte dos tratamentos. Em Portugal não tivemos resposta positiva e este fica muito caro para as famílias. Quanto custa? Por mês são 4100 euros, um valor que os pais não conseguem pagar. Os pais custeiam 1700 euros, também é caro. Trabalhamos todos os dias, a todas as horas. Mas à noite tenho de ter bons profissionais, por exemplo, um jovem acorda a chorar e preciso de ter um psicólogo que o apoie. E isso custa dinheiro. Tem uma taxa de sucesso de 75% e os outros 25%? Não sabemos. Talvez falhemos nós, mas também há jovens complicados que, às vezes, têm problemas com drogas e aos quais não é fácil chegar. Bárbara Wong - PÚBLICO «https://www.publico.pt/sociedade/noticia/os-pais-tem-medo-de-ser-pais-tem-medo-de-dizer-nao-1722130»
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