|
|
Na última reportagem sobre as escolas de referência em Portugal fomos saber o que privilegiar na hora de escolher a escola para os filhos? Para muitos pais, a única opção é inscrever as crianças no estabelecimento de ensino mais próximo de casa, mas há quem tenha em conta outros fatores. Joana Cascais, que matriculou a filha no pré-escolar, guiou-se pelas boas referências que tinha do Centro Social e Paroquial da Vera Cruz, em Aveiro. Já Ana Tavares, escolheu as escolas de 1.º ciclo mais pequenas e com ATL na zona de Albufeira. Alzira Cavaca e Sofia Canas optaram por manter os filhos nas mesmas escolas, perto dos amigos dos estudantes e onde também podem contar com o suporte familiar. No pré-escolar, o que importa são as pessoas Aveiro. Francisca, de 3 anos, mudou-se há duas semanas de uma creche em Esgueira, que frequentava desde os 4 meses, para a do Centro Social Paroquial Vera Cruz (CSPVC), em Aveiro, a fim de assegurar vaga no pré-escolar daquela instituição. Ainda está na fase de adaptação. "Hoje chorou, mas já tinha passado três ou quatro dias sem chorar. Não contava fazer a mudança já, mas é importante para ela sair da sua zona de conforto", diz ao DN a mãe. Na altura de decidir se a filha continuava ou não em Esgueira, Joana Cascais optou por seguir os conselhos de amigos e de outras pessoas conhecidas. "Tinha muito boas referências da Vera Cruz no que diz respeito à parte humana. Guio-me mais por isso do que pelas instalações." Não existiam vagas, mas houve uma desistência. Joana agradece. "Fiz uma pesquisa sobre a oferta pública, mas sei que há muita dificuldade de entrada e também não tinha referências. Da Vera Cruz, que é uma IPSS, tinha muito boas referências." São as educadoras e auxiliares que vão passar grande parte do dia com a Francisca. "Vão ajudar--me na educação e na formação dela, na transmissão de valores, regras de cidadania, de vivência em grupo, na parte da alimentação e no desenvolvimento de toda a parte cognitiva", destaca. O pré-escolar do CSPVC funciona num edifício de origem senhorial, no centro da cidade de Aveiro. Joana conhece a creche, mas ainda não visitou a valência do pré--escolar. "Tenho noção de que terá condições, mas vou sempre pela parte humana. O que importa é se são pessoas cuidadas, com vontade de ensinar, com gosto pela profissão." A expectativa, adianta, é que haja "muita ajuda e uma boa comunicação entre os pais e a comunidade educativa". A ideia de que a componente humana é a mais importante é partilhada pela psicóloga Ana Gomes. No pré-escolar, a docente da Universidade Autónoma de Lisboa considera que a escola deve ter "boas condições físicas, boas salas, com luz, bom espaço e materiais necessários" e as turmas não devem ter um número excessivo de crianças. Mas, tal como Joana, a investigadora considera que o mais importante "são as características humanas da escola, as competências relacionais da educadora e das auxiliares". São estas que "fazem com que a criança goste e sinta a escola como um espaço positivo, emocionalmente seguro, apelativo, interessante e que fazem que o gostar de "ir à escola" se comece a desenvolver e a intensificar-se". Quando a prioridade é uma escola pequena Algarve. Escolher a escola mais próxima de casa pode ser uma prioridade para muitos pais, mas a distância nunca foi uma preocupação para Ana Tavares. "A minha prioridade era que fosse uma escola pequena e que tivesse ATL, porque o horário da escola primária não costuma ser compatível com o nosso", explicou ao DN a jornalista, de 40 anos, que inscreveu o filho, Afonso, no 1.º ano do 1.º ciclo. No momento da matrícula, Ana teve de escolher três escolas. Se o filho entrar na primeira, Albufeira 1, fica a dois quilómetros de casa. "Neste momento, está numa escola que tem primária, mas o funcionamento não me agrada muito, daí a mudança", justifica. Afonso é uma criança "muito esperta e muito curiosa", pelo que a mãe não via vantagens em "misturá-lo com miúdos mais velhos", como acontece nas escolas básicas integradas. Procurou uma escola "que se parecesse com a primária do nosso tempo". Também prefere um espaço que não tenha muitas salas e muitos alunos. "Não é pelo edifício em si, mas depois colocam-se os problemas da falta de pessoal e da supervisão nos recreios, o que aumenta a probabilidade de as coisas correrem pior." Afonso é uma criança que se adapta facilmente. "Não vai chorar, nem fazer birra. É uma nova fase. Está mortinho por ir para a escola dos grandes." Mas, sublinha, a escolha da escola "é sempre uma decisão que preocupa". Segundo a psicóloga Ana Gomes, "decidir a escola onde o nosso filho inicia o 1.º ciclo é fulcral para o seu desenvolvimento como aluno e essa decisão vai acompanhá-lo nos próximos anos e deixa marcas inquestionáveis". Afonso faz 6 anos a 30 de julho, mas há crianças que só festejam o aniversário depois de 15 de setembro. "Colocar o filho no 1.º ciclo sem que a criança tenha atingido a maturidade necessária pode ter efeitos muito adversos no seu desenvolvimento escolar", explica a investigadora. Embora alguns pais considerem mais vantajoso a criança reprovar, esta "pode desenvolver um autoconceito académico comprometido e que pode acompanhá-la na sua vida escolar". A docente da Universidade Autónoma de Lisboa sublinha que "as características mais determinantes numa escola do 1.º ciclo não são tanto as físicas, mas as humanas, ao fim e ao cabo, da professora. Esta é a figura basilar do mundo escolar da criança e também ela deve assumir características adequadas de prontidão escolar para ensinar". Boa experiência com os irmãos motiva escolha Évora. É como no futebol. "Em equipa que ganha não se mexe." Atendendo à boa experiência que teve com os dois filhos mais velhos na Escola André de Resende, em Évora, Alzira Cavaca decidiu, em conjunto com o filho mais novo, Luís Filipe, mantê-lo na mesma instituição de ensino. Ingressou na escola no 5.º ano e vai continuar agora que se prepara para entrar no 7.º. "O feedback dos irmãos foi excelente. Além disso, fica mesmo em frente à nossa casa, pelo que é muito cómodo", explica ao DN a médica. Na decisão pesou, ainda, um outro fator: "Há seis ou sete colegas que vão mudar de escola, mas a maioria mantém-se. Assim, continua com o mesmo grupo de amigos. Ele também queria ficar." A proximidade é um fator importante para a família: "A logística familiar é fácil. Da janela consigo ver o Luís a ir para a escola, enquanto as outras opções que existem para o 3.º ciclo ficam do outro lado da cidade." Tal como o facto de os dois irmãos terem frequentado a mesma escola. "O que por um lado é excelente, mas por outro é péssimo", graceja a mãe. É que a irmã mais velha sempre foi mais trabalhadora do que os dois irmãos, o que faz que os professores que apanham os mais novos façam comparações e até que exijam mais deles. Como vive e trabalha perto da Escola André de Resende, a médica também conhece o ambiente, o que a tranquiliza. Alzira Cavacas acredita que a passagem para o 3.º ciclo "não será uma mudança violenta", até porque o Luís está "familiarizado com o espaço, com os docentes e auxiliares". "Conhece toda a gente", sublinha, confiante que o filho "vai dar conta do recado". Embora a adaptação não seja um problema, a médica diz que o que a preocupa "é a exigência do 3.º ciclo". Questionada sobre o que é que uma escola de 3.º ciclo deve oferecer, Maria do Céu Taveira, docente da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, destaca "um plano de promoção do desenvolvimento vocacional dos seus alunos", ou seja, "uma estratégia integrada no projeto educativo que permita aos alunos conhecerem-se melhor como trabalhadores e construírem de modo muito progressivo a sua carreira e vida". Para a especialista em psicologia da educação, a escola deve procurar permitir ao estudante, de um modo sistemático, "explorar oportunidades de estudo ou trabalho diferentes, imaginar-se em diferentes futuros possíveis, ganhar confiança em si e preparar-se para lidar com as próximas fases da sua vida". Fazer o secundário com os amigos por perto Oeiras. Desde o 4.º ano que Guilherme Canas é aluno do quadro de honra. "No ano passado, teve cinco a tudo", conta a mãe, Sofia Canas. É um adolescente que nunca deu preocupações aos pais ao nível dos estudos. "A partir do 10.º ano estará a trabalhar para o futuro dele. Tento incutir nele que é para continuar no mesmo registo", afirma. Guilherme frequenta o 9.º ano na Escola Secundária Luís de Freitas Branco, no Agrupamento de Paço de Arcos, e é aí que vai continuar no próximo ano letivo. "O grupo de amigos fica na mesma escola, onde existe a área que eles querem seguir [economia]. Além disso, tem-se dado bem e gosta. Não se ponderou sequer uma mudança."
Destacando que existem "muito boas escolas no concelho", Sofia Canas, diretora de um hotel, considera que é essencial um estabelecimento de ensino secundário oferecer boas "infraestruturas, equipa de docentes e segurança". Para esta mãe, também é importante manter o filho perto dos amigos. Um aspeto que, segundo Maria do Céu Taveira, especialista em psicologia da educação, deve ser ponderado pelos pais. "Sobretudo nos casos em que um amigo/a ou a presença de amigos é encarada como uma espécie de âncora, que ajuda a antecipar menos dificuldades de inserção num novo ambiente escolar e tudo o que este pode trazer de novo, desconhecido e eventualmente mais difícil de lidar", explica a docente da Universidade do Minho. Guilherme deseja vir a trabalhar na gestão de carreiras desportivas, mas quer ter um plano alternativo. Contudo, no 10.º ano, muitos jovens ainda não têm um projeto definido. Por isso, Maria do Céu Taveira sublinha a a importância de a escola oferecer "um plano de promoção do desenvolvimento vocacional dos seus alunos", que permita "conhecerem-se melhor como trabalhadores e construírem de modo muito progressivo a sua carreira e vida". Com o suporte familiar dos avós, que vivem perto da escola, Guilherme movimenta-se facilmente a pé, o que também é importante para os pais. Sofia Canas diz que o facto de o filho ter começado a frequentar as salas de estudo da Explicolândia há cinco anos permitia ocupar o tempo em que não havia aulas, pelo que não se colocava o problema dos períodos mortos. "Aprendeu lá a estudar, gere muito bem o tempo. É muito responsável, tem muito método de trabalho." Joana Capucho - DN «http://www.dn.pt/sociedade/interior/da-proximidade-aos-amigos-o-que-importa-na-escolha-da-escola-8568493.html»
0 Comments
A escola tem de partir de onde os alunos estão e não de onde ela considera que os alunos deveriam estar. Um dos compromissos mais radicais que se pode assumir em Educação é o de “educar todos”. A escola tal como a conhecemos organizou-se teoricamente neste princípio, mas, na realidade, sempre falhou na sua prática. A escola pública demorou muitos anos até achegar a todas as crianças, isto é, a permitir a todos os alunos o acesso, a entrada. Lembro que não há muitos anos atrás ainda se combatia em Portugal pelo acesso de todos os alunos à escola, sobretudo aos escalões mais altos da escolaridade obrigatória. Garantido o sucesso, levantou-se outra questão que se poderia resumir assim: todos os alunos podem entrar, mas quantos podem sair com sucesso?
A procura da resposta a esta questão iluminou vários obstáculos a este sucesso: muitos alunos não se mostravam capazes de progredir ao ritmo que o sistema lhes exigia e por este motivo reprovavam (ou, usando a metáfora cinegética, “chumbavam”); muitos alunos, desencorajados ou empurrados, saíam da escola sem concluir a escolaridade que se considerava essencial e básica. Em Portugal estamos ainda a lutar esta batalha do sucesso: detemos tristes recordes de reprovações e de reprovações precoces e a nossa taxa de abandono escolar coloca-nos em posições desprestigiantes nos rankings internacionais. A que se deve esta situação? Um dos axiomas que se aprende quando nos começamos a interessar pela análise dos sistemas educativos é que as causas e as consequências dos fenómenos que pretendemos estudar são sempre múltiplas e interrelacionadas. Algumas pessoas mais desprevenidas sonham com o fator “x” que inexoravelmente produzirá o efeito “y”. Frequentemente se designa este sonho impossível por “engenharia social”, dado que se pensa que sistemas humanos complexos se poderiam influenciar e resolver através de medidas simples e singulares. Feliz ou infelizmente não é assim: fenómenos socialmente complexos como os que têm por palco a Educação só se resolvem através de atuações em várias áreas e muitas vezes estendidas no tempo. Feita esta ressalva, retomamos a questão: a que se devem estes pobres resultados no combate ao sucesso e ao abandono escolar? Certamente a múltiplas razões. Por exemplo, recentemente, o Projeto Aqueduto desenvolvido em parceria entre o Conselho Nacional de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos estabeleceu uma relação entre o sucesso escolar e a escolaridade dos pais — sobretudo da mãe — das crianças. A estes fatores se podem juntar a desigualdade social, as assimetrias no nosso território, os valores que as famílias dão à escolarização, o apoio dado aos alunos, a forma como se encara na escola o currículo, enfim, uma grande multiplicidade de fatores que, como se disse, interagem e se influenciam mutuamente. De todos estes fatores presentes, um deles parece ter uma importância central em todo este processo: a escola, talvez pela primeira vez na sua curta história de menos de dois séculos, arrisca-se a ver os seus fundamentos de valores e organização serem postos em causa. A escola tal como a conhecemos hoje vê o aluno como um ser inacabado e imperfeito que vai ser corrigido pelo efeito da Educação, organiza-se como se os alunos aprendessem todos e tudo ao mesmo tempo, agrupa os alunos com base em critérios de homogeneidade, assume que a Educação é, sobretudo, um processo de transmissão. Ora os alunos que chegam à escola hoje encontram-se numa situação estruturalmente diferente dos que chegavam há escola há 15 anos atrás. Esta diferença deve muito à popularização das tecnologias digitais que permitem o acesso a fontes de informação e meios de comunicação até agora impossíveis. Os alunos de hoje não encontram na escola a centralidade de motivação e de fonte de conhecimento que encontravam antes. E, perante esta situação, que pode a escola fazer? Antes de mais, a escola tem de partir de onde os alunos estão e não de onde ela considera que os alunos deveriam estar. Não há muito tempo, ao trabalhar com um grupo de professores, eles mostraram-se desanimados por os alunos não estarem onde deveriam estar: atentos, participativos e interessados como deveriam estar nas aulas e nos manuais. A escola, se achar que os alunos estão desadequados, não será capaz de os ensinar. Há muitos anos, um documento da UNESCO afirmava que “não são as escolas que têm direito a certos tipos de alunos, os alunos é que têm direito à Educação”. Em segundo lugar, a escola tem de acabar com a ideia de ensinar grupos homogéneos. Esta homogeneidade é responsável por muita segregação — aberta ou encapotada — que ainda persiste nas nossas escolas. Se os alunos devem ser “normais” e “homogéneos”, aos que não o são resta-lhes o rótulo de “especiais” e “diferentes”. O absurdo da ideia de grupos homogéneos — agora até se fala de “homogeneidade relativa”! — fortalece o valor que informa a má pedagogia: não ver as singularidades dos alunos e valorizar aquilo em que eles são menos interessantes e mais previsíveis. Ironicamente, dizia-me um professor: “Na minha turma tenho de tudo: até alunos — coitados — que são rotulados de normais.” As escolas, e sobretudo os professores, precisam de quem caminhe ao seu lado para os ajudar a quebrar no pensamento e na prática estes mitos dos alunos não serem o que deles esperávamos, nomeadamente não serem “homogéneos”. Estamos em tempo de olhar corajosamente para estas mudanças. DAVID RODRIGUES - PÚBLICO «https://www.publico.pt/2017/06/09/sociedade/noticia/ha-alunos-rotulados-de-normais-1773944» Ainda que disso não tome consciência, a criança age filosoficamente, buscando verdades. Conta-se que um filósofo conversava com o diabo quando passou um sábio com um saco cheio de verdades, do qual uma caiu. Alguém a apanhou e saiu correndo, gritando: Encontrei a verdade! Perante esse quadro, o filósofo disse para o Diabo: Aquele homem encontrou a verdade e, agora, todos vão saber que você é uma ilusão da mente. Mas o Diabo respondeu: Está enganado. Ele encontrou um pedaço da verdade. Com ela, vai fundar mais uma religião. E eu vou ficar mais forte! Quem sofrer de alguma forma de angústia existencial encontrará respostas em Kalil Gibran, ou em Antoine Saint Exupéry. Aqueles que estiverem em situação de dúvida religiosa poderão recorrer à Bíblia, ao Corão ou a outro qualquer livro sagrado. Essa experiência pode constituir-se numa bela harmonia.
Certamente, haverá muitas verdades para a verdade em que acreditamos. Se eu vejo de um modo e o outro vê de outro modo, que se tente ver os dois modos, ver juntos, como Mahatma Gandhi fazia: “A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema, mas em ser coerente com a verdade”. Não nos esqueçamos que foi a imposição de uma “verdade” única que levou Espinosa ao exílio e Galileu à retratação. José Prat ironiza: “Sempre que alguém afirma que dois e dois são quatro, e um ignorante lhe responde que dois e dois são seis, surge um terceiro que, em prol da moderação e do diálogo, acaba por concluir que dois e dois são cinco". Apesar das distorções da informação cometidas pelos media, a verdade continua sendo verdade. Quando a mentira, tal como a Medusa, contempla o escudo de Teseu e soçobra, é porque reconhece a sua verdadeira face. Num e-mail recebido de uma professora estava escrito: — Eu estava numa palestra sua e lhe fiz uma pergunta. Apresentei-me como pedagoga e disse que tinha duas dúvidas. O senhor me respondeu algo assim: Como pode ser pedagoga e ter apenas duas dúvidas? Acredito que todo o ser humano é uma dúvida, uma “metamorfose ambulante”. A dúvida e a humildade são companheiras diletas da verdade, uma mistura sublime. Aceitemos, serenamente, os mistérios por desvendar, sem necessidade de explicações para o inexplicável. Venho repetindo que o princípio da veracidade deverá nortear todos os projetos educativos. Mas, na boca das crianças, a verdade chega a ser crueldade... — Ah tia, desculpe! – disse a aluna. — Porquê, minha filha? – quis saber a professora. — É que chamei a senhora de idiota – esclareceu a criança. — Eu não escutei nada – disse a professora, sorrindo. — Foi só em pensamento... – esclareceu a criança. Ainda que disso não tome consciência, a criança age filosoficamente, buscando verdades. Verdades como a que reconstitui a história da filosofia dos adultos: Thales afirmava ser a água o elemento fundamental da matéria. Anaxímenes acreditou que fosse o ar. Para Xenófanes, o elemento fundamental era a terra. Heraclito afirmou que era o fogo. E chegou Empédocles, para explicar que o mundo é a combinação de água, ar, terra e fogo. As crianças e os loucos falam verdades que a sua época permite vislumbrar. Talvez por isso, os loucos sejam internados em hospícios e as crianças em escolas. Permitam-me, pois, que vos narre mais um episódio, confirmação da infantil prática da verdade. Uma professora tentava convencer os alunos a comprarem uma cópia da foto do grupo: — Imaginai que bonito será quando vocês forem grandes e todos dizerem “Ali está a Catarina, é advogada, este é o Miguel e, agora, é médico”. Uma vozinha, vinda do fundo da sala, fez-se ouvir: — E ali está a professora... Que já morreu. José Pacheco - EDUCARE «http://www.educare.pt/testemunhos/artigo/ver/?id=119927&langid=1» Menos currículo, mais aluno. Menos isolamento, mais partilha. O diretor do Departamento da Educação da OCDE, Andreas Schleicher, diz que é preciso reorganizar a aprendizagem, com "ousadia". “Impressionante”. É assim que tem sido, no entender de Andreas Schleicher, o progresso dos alunos portugueses ao longo dos últimos anos. Mas o diretor do departamento de Educação da OCDE deixa um aviso: “Portugal tem obviamente assistido a um enorme progresso, mas precisa de ter cuidado para educar as crianças para o seu próprio futuro e não para o nosso passado. “ O caminho ainda é longo e Portugal pode inspirar-se nos países que estão no topo do desempenho escolar, afirma o também responsável máximo pelos testes do Programme for International Student Assessment (PISA), sublinhando que estes países têm várias práticas e políticas em comum: valorizam os professores, promovem a inovação dentro da sala de aula e procuram garantir que todos os estudantes têm acesso ao ensino de excelência. Andreas Schleicher não tem dúvidas que o ensino terá de mudar. Ou melhor: a forma como se ensina. O futuro terá de ser, obrigatoriamente, “centrado no aluno”, mais “integrado”, mais “colaborativo” e “participativo” e assente nas experiências de cada aluno, trabalhando não só as competências cognitivas, mas as emocionais e sociais. Em entrevista por escrito ao Observador, Andreas Schleicher, que esteve em Lisboa, esta sexta-feira, a participar numa conferência sobre os resultados do PISA, organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, insiste na importância de fortalecer a profissão docente, dando-lhes margem de progressão e mais tempo para trabalharem com os alunos e lembra que o chumbo não resolve problemas, pelo contrário. Pela primeira vez em 15 anos, os alunos portugueses ficaram acima da média da OCDE em leitura, matemática e ciências, no PISA. O que acha que contribuiu para esta subida? Portugal tem feito progressos impressionantes na última década no que diz respeito à profissionalização dos professores e na construção de uma rede de escolas mais coerente e colaborativa. Isso implicou alguns passos difíceis como a fecho de escolas nas zonas rurais, que estavam altamente dispersas. Por mais difícil que possa ter sido para pais e professores, parece ter sido benéfico para a aprendizagem dos alunos. Apesar disso, há um longo caminho a percorrer. Onde deve Portugal investir? Sim, ainda há. E passar do bom para o ótimo vai exigir políticas e práticas muito diferentes daquelas que são necessárias para passar do mau para o razoável. Vale a pena olhar para os sistemas de educação com elevado desempenho. Todos eles dão muita atenção à seleção e à formação dos seus professores. E quando estão a decidir onde vão investir, dão prioridade à qualidade dos professores. E permitem aos professores progredir na carreira. Além disso, os países com um alto desempenho trocaram o controlo burocrático e contabilístico pela profissionalização das formas de organização do trabalho. Eles encorajam os seus professores a inovarem na forma como ensinam, para melhorar o seu próprio desempenho e o dos colegas. Também procuram garantir que o ensino de alta qualidade chega a todo o sistema para que todos os alunos beneficiem de um excelente ensino. Atingir uma maior equidade na educação não é apenas um imperativo de justiça social, parece ser também uma maneira de utilizar os recursos de forma mais eficaz e promover a coesão social. "Vale a pena olhar para os sistemas de educação com elevado desempenho. Todos eles dão muita atenção à seleção e à formação dos seus professores." A Suécia e a Finlândia têm sido apresentados como casos de sucesso e exemplos a seguir aqui em Portugal. Mas os resultados destes países no PISA têm caído. Porquê? Felizmente a Suécia está a assistir novamente às primeiras melhorias e a Finlândia ainda faz parte do grupo de países com melhor desempenho no PISA. Mas há grandes lições a retirar do caso sueco. A proliferação desregulada de escolas privadas tem permitido uma grande variabilidade na qualidade do ensino. E o que faz com que países como Singapura e Japão pontuem sempre tão bem? Os responsáveis máximos pelos sistemas educativos nos países do Leste Asiático convenceram os seus cidadãos a fazerem escolhas que valorizam a educação. Em Singapura, por exemplo, os pais investem os últimos recursos na educação dos filhos para que eles tenham um futuro promissor. Em grande parte do mundo ocidental, os cidadãos já hipotecaram o futuro dos seus filhos, como se pode ver pelas enormes montanhas de dívida pública. Depois, há a crença, disseminada um pouco por todo o Leste Asiático de que todas as crianças podem ter sucesso. O facto dos alunos na maioria dos países do Leste Asiático acreditarem que a realização e o sucesso é sobretudo um produto de muito trabalho e não da inteligência herdada, como as crianças portuguesas normalmente dizem, sugere que a educação e seu contexto social podem fazer a diferença, incutindo valores que promovem o sucesso na educação. Mas, para além disto, muito de tudo isto se deve a políticas e práticas que são adotadas nesses países. Deixe-me dar-lhe um exemplo. Depois dos resultados do PISA em 2012 terem sido tornados públicos, fiquei interessado em Shanghai. E quando visitei Shanghai em 2013 vi professores a usarem uma plataforma digital para partilharem planos de aula. O que só por si não era nada de muito raro. O que os tornava diferentes era que quanto mais os outros professores fizessem download das lições, as criticassem ou melhorassem, maior era a reputação do professor que a tinha partilhado. No final do ano, o diretor não iria apenas perguntar quão bem o professor tinha ensinado os seus ou a suas alunas, mas também qual o contributo dele para melhorar todo o sistema educativo. A abordagem de Shanghai não é só um ótimo exemplo para identificar e partilhar boas práticas entre professores, como também é poderosa do ponto de vista do crescimento e desenvolvimento profissional. Desta forma, Shanghai criou uma comunidade de professores e criou espaço para a criatividade e a iniciativa dos professores. "Em Singapura os pais investem os últimos recursos na educação dos filhos para que eles tenham um futuro promissor. Em grande parte do mundo ocidental, os cidadãos já hipotecaram o futuro dos seus filhos, como se pode ver pelas enormes montanhas de dívida pública." e pensa sobre o currículo em Portugal? Portugal tem obviamente assistido a um enorme progresso, mas precisa de ter cuidado para educar as crianças para o seu próprio futuro e não para o nosso passado. A reprodução de matérias, onde os estudantes portugueses são bastante bons, está-se a tornar menos importante. O tipo de coisas que são fáceis de ensinar são igualmente fáceis de digitalizar e automatizar. Limitar a educação à transmissão de conhecimento académico é correr o risco de estupidificar os alunos, reduzindo-os à competição com os computadores, ao invés de focar em características humanas fundamentais que permitem que a educação fique à frente dos progressos tecnológicos e sociais. Pensar sobre a verdade, domínio do conhecimento humano e da aprendizagem; sobre o belo, domínio da criatividade, da estética e do design; sobre o bem, domínio da ética; o justo, domínio da vida política e cívica; o sustentável, domínio da saúde da natureza e física. São apenas alguns exemplos. As competências sociais e emocionais que nos ajudam a viver e trabalhar juntos são cada vez mais importantes para o sucesso no trabalho e na vida. Essas são as competências necessárias para definir metas, trabalhar em equipa e gerir emoções. Desempenham um papel essencial em todas as fases da vida. Juntamente com as capacidades cognitivas e de aprendizagem, é importante que os alunos desenvolvam fortes competências sociais e emocionais, que os vão ajudar a equilibrar e definir a sua personalidade. Isto pode incluir traços de caráter como perseverança, empatia, resiliência, “mindfulness”, ética, coragem ou liderança. "Limitar a educação à transmissão de conhecimento académico é correr o risco de estupidificar os alunos, reduzindo-os à competição com os computadores." Cada vez mais professores em todo o mundo, e também em Portugal, têm vindo a defender um modelo de ensino menos expositivo e mais voltado para as individualidades de cada aluno. Aulas mais práticas, com mais pesquisa, debate e envolvência dos alunos que podem, inclusive, definir as suas metas de aprendizagem. Como olha para estas experiências que vão emergindo? Nós precisamos de pensar não apenas no currículo, mas, mais ousadamente, na organização da aprendizagem. O passado foi sobre a sabedoria recebida, o futuro é sobre a sabedoria gerada pelo utilizador. O passado estava dividido — com professores e conteúdos divididos por disciplinas e alunos separados por expectativas de perspetivas futuras. O passado podia também ser mais isolado — com as escolas concebidas para manter os alunos dentro e o resto do mundo lá fora, com uma falta de envolvimento com as famílias e uma relutância das escolas em se associarem umas às outras, em serem parceiras. O futuro precisa de ser integrado — com ênfase na integração das disciplinas e dos estudantes –, precisa de ser conectado — para que a aprendizagem esteja ligada a contextos do mundo real e a questões contemporâneas e aberta aos recursos existentes na comunidade. O ensino no passado estava baseado em matérias. O ensino no futuro terá de assentar nas experiências de aprendizagem que ajudam os alunos a pensar além dos limites das disciplinas. O passado era hierárquico, o futuro terá de ser mais colaborativo. "O ensino no futuro terá de assentar nas experiências de aprendizagem que ajudam os alunos a pensar além dos limites das disciplinas." No passado, diferentes alunos eram ensinados de maneiras semelhantes. Precisamos de nos tornar melhores a abraçar a diversidade, com abordagens de ensino diferenciadas. O passado era centrado no currículo, o futuro é centrado no aluno. Os objetivos do passado era a padronização, com os alunos divididos por grupos etários, seguindo o mesmo currículo e, todos avaliados ao mesmo tempo. Falar de futuro é falar de personalizar experiências educacionais, programar o ensino de acordo com as paixões e as capacidades dos alunos, ajudando os alunos a personalizar a aprendizagem e a avaliação de maneiras que fomentem a participação e o talento. Falar de futuro é falar sobre incentivar os alunos a serem engenhosos. Isso irá capitalizar os pontos fortes dos estudantes mais talentosos. O futuro será sobre a participação dos alunos. Tradicionalmente, havia uma ênfase no papel da gestão escolar, mas precisamos de fazer melhor na liderança. Isso inclui coordenar o currículo e os programas curriculares, monitorizar e avaliar os professores, promover o desenvolvimento profissional dos professores e apoiar culturas de trabalho colaborativas. O passado era sobre o controlo de qualidade, o futuro é sobre a garantia de qualidade. "Em Portugal, os professores têm pouco tempo para fazer qualquer outra coisa que não seja ensinar. Assim, ao invés de diminuir o tamanho da turma, pode ser mais importante pensar noutras formas de fortalecer a profissão docente." E sobre o tamanho das turmas? Em Portugal os professores dizem que é difícil ensinar em turmas com cerca de 30 alunos… Pense nisso desta maneira: Portugal e China têm um número semelhante de alunos por professor. Mas na China as turmas têm o dobro dos alunos de Portugal. Como é que isto aconteceu? É que na China a componente letiva dos professores é pouco mais de metade da dos professores portugueses. Isso dá-lhes muito tempo para trabalhar individualmente com os alunos e com os pais, para preparar e avaliar as aulas, para investir no seu desenvolvimento profissional e no dos colegas. Em Portugal, os professores têm pouco tempo para fazer qualquer outra coisa que não seja ensinar. Assim, ao invés de diminuir o tamanho da turma, pode ser mais importante pensar noutras formas de fortalecer a profissão docente. "A taxa de chumbos é ainda muito alta. Não é uma boa prática, não conduz a uma melhoria dos resultados, é muito dispendiosa e estigmatizante." Por último, os chumbos. Em Portugal, a taxa de chumbos é muito alta. Como olha para este indicador? E qual a solução?
Sim, a taxa de chumbos é ainda muito alta. Não é uma boa prática, não conduz a uma melhoria dos resultados, é muito dispendiosa e estigmatizante. Os professores precisam de mais apoio para diagnosticarem as dificuldades de aprendizagem mais cedo, bem antes dos problemas serem tão acentuados que tornam o chumbo a opção. Eles precisam de tempo e espaço para ajudarem os alunos a superar as suas fraquezas. O chumbo é praticamente inexistente nos sistemas de ensino com melhores desempenhos. Entrevista de Marlene Carriço - Observador «http://observador.pt/especiais/portugal-tem-de-ter-cuidado-para-educar-as-criancas-para-o-seu-proprio-futuro-e-nao-para-o-nosso-passado/» As crianças tinham classificado os seus pais. O meu filho deu-me 6 e 7 (sinceramente eu merecia 5 ou menos). Era quarta-feira, 8:00 h. Cheguei a tempo à escola do meu filho –“Não se esqueçam de vir à reunião de amanhã, é obrigatória!” – Foi o que a professora disse no dia anterior.
-“O que é que esta professora pensa! … Acha que podemos dispor facilmente do tempo que ela quer? … Se ela soubesse o quanto era importante a reunião que eu tinha às 8:30 h” … Dela dependia uma boa negociação e tive que a cancelar! Lá estávamos nós, mães e pais, e a professora. Começou a tempo, agradeceu a nossa presença e começou a falar. Não me lembro do que dizia, a minha mente estava a pensar como iria resolver aquele negócio tão importante, já me imaginava a comprar uma televisão nova com o dinheiro. “João Rodrigues!” – escutei ao longe – “Não está o pai de João?” – diz a professora. “Sim, eu estou aqui” – contestei ao ir receber a caderneta escolar do meu filho. Voltei para o meu lugar e disse ao abrir a caderneta … “Foi para isto que eu vim … o que é isto???” A caderneta estava cheia de seis e setes. Guardei rapidamente, para que ninguém pudesse ver como se tinha saído o meu filho. De volta para casa, aumentava ainda mais a minha raiva, cada vez que pensava: “Mas, se lhe dou tudo, não tenho faltado com nada! … Agora ele vai ver!” Cheguei, entrei em casa, fechei a porta com uma batida e gritei: “Vem cá, João!” João estava no quintal, correu para abraçar-me … “Papá!” – “Nada de papá!” Afastei-o de mim, tirei o meu cinto e não me lembro quantas vezes bati ao mesmo tempo que dizia o que pensava dele. – “Agora vai para o teu quarto!” João foi a chorar, a sua face estava vermelha e a sua boca tremia. A minha esposa não disse nada, só mexeu a cabeça num gesto de negação e entrou na cozinha. Quando fui para a cama, mais tranquilo, a minha esposa entregou-me a caderneta do João, que tinha ficado dentro do meu casaco, e disse: – “Lê devagar e depois pensa na decisão que deves tomar…” Logo no início estava escrito: BOLETIM DO PAPÁ. Pelo tempo que o teu pai dedica a conversar contigo antes de dormir: 6 Pelo tempo que o teu pai dedica a brincar contigo: 6 Pelo tempo que o teu pai dedica a ajudar-te com as tarefas: 6 Pelo tempo que o teu pai dedica para levar-te de passeio com a família: 7 Pelo tempo que o teu pai dedica para ler-te um livro antes de dormir: 6 Pelo tempo que o teu pai dedica para abraçar-te e beijar-te: 6 Pelo tempo que o teu pai dedica para assistir televisão contigo: 7 Pelo tempo que o teu pai dedica para escutar as tuas dúvidas ou problemas: 6 Pelo tempo que teu o pai dedica para ensinar-te coisas: 7 Média: 6,22 PAIS – ACORDEM ENQUANTO TÊM TEMPO… As crianças tinham classificado os seus pais. O meu filho deu-me 6 e 7 (sinceramente eu merecia 5 ou menos). Levantei-me e corri para o quarto dele, abracei-o e chorei. Queria poder retroceder no tempo … mas isso não é possível. João abriu os olhos, ainda com os olhos inchados pelas lágrimas, sorriu, abraçou-me e disse: – “Eu amo-te papá!” … Fechou os olhos e dormiu. ACORDEM PAIS! Aprendam a dar o certo valor àquilo que é mais importante em relação aos vossos filhos, já que disso depende o sucesso ou fracasso nas suas vidas. Já pensou qual seria a ‘nota’ que o seu filho lhe daria hoje? Autor desconhecido Berlim, Alemanha. Em 30 de janeiro de 1933, o então presidente Hindenburg nomeava Adolf Hitler como chanceler. Nós, os cidadãos desta nação, estamos agora juntos num grande esforço nacional para reconstruir o nosso país e restaurar a sua promessa para todo o nosso povo. Juntos, vamos determinar o rumo do país e do mundo para os muitos e muitos anos que aí vêem.
Vamos enfrentar desafios. Vamos confrontar-nos com dificuldades. Mas vamos fazer o que temos que fazer. Contudo, a cerimónia de hoje tem um significado especial. Pois hoje não estamos simplesmente a transferir o poder de um Governo para outro, ou de um partido para outro – estamos a transferir o poder da capital e a devolvê-lo para vocês, o povo. Durante muito tempo, um pequeno grupo na capital do nosso país colheu as vantagens de governar, enquanto o povo pagou as custas. A capital floresceu – mas o povo não partilhou dessa riqueza. Os políticos prosperaram – mas os empregos foram-se embora e as fábricas fecharam. O sistema protegeu-se a si próprio, mas não protegeu os cidadãos deste país. As vitórias deles não foram as nossa vitórias, os seus triunfos não foram os nossos triunfos; e enquanto festejavam na capital, havia muito pouco para festejar nas famílias espalhadas pela nossa terra. Tudo isso vai mudar – a começar aqui e agora, porque este momento é o vosso momento; pertence a vós. Pertence a todos os que se reuniram aqui hoje e a todos os que nos estão a ver em todo o país. Este é o nosso dia. A nossa festa. Este país é o nosso país. O que realmente interessa não é o partido que controla o Governo, mas sim se o Governo é controlado pelo povo. 30 de Janeiro de 1933 será lembrado como o dia em que o povo se tornou novamente o dono desta nação. Os homens e mulheres do nosso país que foram esquecidos, não serão mais esquecidos. Agora estamos todos a ouvir-vos. Vocês vieram às dezenas de milhões para fazer parte dum movimento histórico como o mundo nunca viu. No centro deste movimento há a convicção fundamental de que uma nação existe para servir os seus cidadãos. Os cidadãos querem boas escolas para os seus filhos, bairros seguros para as suas famílias e trabalho para si próprios. São exigências justas e razoáveis de pessoas justas e dum público justo. Mas para demasiados cidadãos existe uma realidade diferente; mães e filhos encurralados na pobreza das cidades degradadas; fábricas enferrujadas espalhadas como pedras lapidares pela paisagem do nosso país; um sistema de educação cheio de dinheiro mas que deixa os nossos jovens e belos estudantes privados de conhecimento; e a delinquência, os gangs e as drogas que roubaram demasiadas vidas e roubaram o nosso país de tanto potencial por realizar. Esta carnificina nacional acaba aqui mesmo e agora mesmo. Nós somos uma única nação – e a dor dessas pessoas é a nossa dor. Os seus sonhos são os nossos sonhos e os seus sucessos o nosso sucesso. Partilhamos um coração, um lar e um destino glorioso. O juramento que faço hoje é um juramento de aliança com todos os cidadãos. Durante muitas décadas enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria nacional; subsidiamos exércitos de outros países ao mesmo tempo que permitíamos a triste carência dos nossos militares; defendemos as fronteiras doutros países enquanto nos recusávamos a defender as nossas; e gastamos triliões e triliões no estrangeiro, enquanto as infra-estruturas do nosso território se estragavam e degradavam. Tornamos ricos outros países enquanto a riqueza, a força e a autoconfiança do nosso país se dissipava no horizonte. Uma a uma, as fábricas fecharam e deixaram o nosso espaço, sem um pensamento sequer sobre os milhões e milhões de trabalhadores que ficavam para trás. A riqueza da nossa classe média foi arrancada dos seus lares e redistribuída pelo mundo inteiro. Mas isso é o passado. Agora estamos a olhar para o futuro. Nós, os que estamos hoje aqui reunidos, estamos a promulgar um decreto para ser ouvido em todas as cidades, em todas as capitais estrangeiras e em todos os centros de poder. A partir de hoje, uma nova visão vai governar a nossa terra. A partir de hoje, vai ser unicamente o nosso país em primeiro lugar, o nosso país primeiro. Todas as decisões sobre comércio, impostos, imigração e negócios estrangeiros serão tomadas para beneficiar os trabalhadores nacionais e as nossas famílias. Temos de proteger as nossas fronteiras das incursões de outros países que fazem os nossos produtos, roubam as nossas empresas e destroem os nossos postos de trabalho. O proteccionismo levará a grande prosperidade e poder. Lutarei por vocês com todas as forças do meu corpo – e nunca, mas nunca, os abandonarei. O país vai voltar a ganhar, a ganhar como nunca aconteceu. Vamos trazer de volta os empregos. Vamos restabelecer as nossas fronteiras. Vamos retomar a nossa riqueza. E vamos trazer de volta os nossos sonhos. Vamos construir novas estradas, auto-estradas, pontes, aeroportos, túneis e vias férreas de ponta a ponta do nosso lindo país. Tiraremos os nossos trabalhadores do desemprego e de volta ao trabalho - reconstruindo o nosso país com mãos nossas e trabalho nacional. Seguiremos duas regras simples: compre produtos nacionais e contrate cidadãos nacionais. Procuraremos a amizade e a boa vontade de todas as nações do mundo – mas fá-lo-emos com a compreensão de que é o direito de todos os países de colocar em primeiro lugar os seus próprios interesses. Não desejamos impor o nosso modo de vida a ninguém, pois preferimos deixá-lo brilhar como um exemplo a seguir por todos. (...) Nas fundações da nossa política está total aliança com a nação, e através da nossa lealdade ao nosso país redescobrimos a lealdade entre cada um de nós. Quando abrimos o nosso coração ao patriotismo, não há espaço para o preconceito. A Bíblia diz: “Como é bom e agradável quando o povo de Deus vive unido.” Devemos dizer o que pensamos abertamente e debater as nossas discordâncias honestamente, mas procurar sempre a solidariedade. Quando o país está unido, o país é imparável. Não há que ter medo – estamos protegidos, e estaremos sempre protegidos. Estaremos protegidos pelos grandes homens e mulheres das nossas Forças Armadas e forças da ordem e, o que é mais importante, estaremos protegidos por Deus. Finalmente, devemos pensar em grande e sonhar em maior ainda. Neste país, entendemos que uma nação só está viva enquanto progride. Não aceitaremos mais políticos que só falam e não fazem nada – sempre a queixar-se mas sem fazer nada contra isso. O tempo da conversa fiada acabou-se Agora chegou a hora da acção. Não deixem que lhes digam que não se pode fazer. Não há desafio que chegue para o coração e vença o espírito nacional. Não falharemos. O nosso país evoluirá e prosperará novamente. Aqui estamos no começo de um novo milénio, prontos para desvendar os mistérios do espaço, libertar a Terra da miséria das doenças e dominar as energias, as indústrias e a tecnologia do futuro. O novo orgulho nacional vai animar-nos, aumentar as nossas perspectivas, sarar as nossas divisões. Está na altura de lembrar aquela velha sabedoria que os nossos soldados nunca esquecem: quer se seja branco ou castanho ou negro, todos vertemos o mesmo sangue vermelho dos patriotas, todos beneficiamos das mesmas gloriosas liberdades, e saudamos a mesma gloriosa bandeira. E quer uma criança nasça nos bairros suburbanos duma grande cidade ou nas planícies ventosas, ambos olham para o mesmo céu nocturno, enchem o coração com os mesmos sonhos e recebem o sopro da vida do mesmo Criador todo poderoso. Assim, todos os cidadãos, em todas as cidades próximas e longínquas, pequenas e grandes, de montanha a montanha e de oceano a oceano, oiçam estas palavras. Nunca mais voltarão a ser ignorados. As vossas vozes, esperanças e sonhos vão definir o nosso destino. E a vossa coragem, bondade e amor hão-de guiar-nos sempre durante a caminhada. Juntos, vamos fazer o país novamente forte. Faremos o país novamente rico. Faremos o país novamente orgulhoso. Faremos o país novamente seguro. E, sim, juntos faremos o país novamente formidável. Muito obrigado, Deus os abençoe e Deus abençoe a nossa nação. Como já deve ter percebido, este discurso não foi dito por Adolf Hitler em 1933. Não, foi o discurso de Donald Trump na tomada de posse, em 20 de Janeiro de 2017. A única coisa que fizemos foi substituir “América” por “país” ou “nação” e eliminar uma frase que se referia especificamente à destruição do terrorismo fundamentalista islâmico. Todos os termos e expressões estão traduzidos à letra. Muito se poderia dizer sobre isto, mas deixamos ao leitor as considerações. José Couto Nogueira - SAPO 24 «http://24.sapo.pt/opiniao/artigos/discurso-de-adolf-hitler-ao-tomar-posse-como-chanceler-da-alemanha» Uma fala de grande inteligência do professor Mário Sérgio Cortella, dizendo da diferenciação entre o papel da escola e o papel da família na educação das crianças. Fala-se, portanto, de Educação X Escolarização. Segundo o professor, muitos pais confundem o seu papel na formação dos filhos, transferindo suas responsabilidades à escola.
Existem vários termos para descrever os vários aspetos da sexualidade: assexuado, bissexual, pansexual, etc. Mas já tinha ouvido falar no termo demissexual? A autora Meryl Williams escreveu um artigo para o Washington Post em que descreve este conceito da seguinte forma: “Há uns anos, sentia-me culpada por deixar frustradas as pessoas com as quais me envolvia. Não queria sentir a necessidade de explicar o porquê de não me sentir preparada para uma fase mais íntima… Normalmente coloco o intelecto e o sentido de humor à frente da beleza de alguém. Se um homem não disser nada ofensivo e me fizer rir no primeiro encontro, é provável que marque um segundo. Mesmo assim, sei que os atributos de uma pessoa não garantem necessariamente que haja uma atração física. Tenho de ser paciente e esperar que esta surja”.
Segundo o site demisexuality.org, este conceito tem como definição “um estado em que a pessoa só se sente sexualmente atraída depois de formar uma ligação emocional”. Ou seja, as pessoas demissexuais não se sentem sexualmente atraídas por alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto sem primeiro criarem um forte laço emocional. Numa sociedade em que facilmente existe um envolvimento sexual logo nos primeiros encontros, viver neste estado pode ser um desafio, como explica Meryl Williams. Joana Marques Alves - VISÃO «http://sol.sapo.pt/artigo/542378/o-que-e-ser-demissexual-» Já não é visto como um refugo do ensino, a sua imagem tem vindo a mudar. O ensino profissional é uma aposta do Ministério da Educação. Uma alternativa consistente que dá ferramentas aos alunos que querem entrar mais cedo no mercado de trabalho e que também dá acesso ao Ensino Superior. Já não é visto como um refugo do ensino, a sua imagem tem vindo a mudar. O ensino profissional é uma aposta do Ministério da Educação. Uma alternativa consistente que dá ferramentas aos alunos que querem entrar mais cedo no mercado de trabalho e que também dá acesso ao Ensino Superior. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, disse-o com todas as letras: o ensino profissional é hoje um dos pilares mais importantes da qualificação dos portugueses. E há planos. “Nós temos um objetivo básico e fundamental: chegar a 2020 com 50% dos nossos alunos a concluir o Ensino Secundário através de vias profissionalizantes”, disse o governante nas comemorações do 10.º aniversário da Ensiguarda – Escola Profissional da Guarda. Nesta visita, o titular da pasta da Educação aproveitou o momento para lembrar que muitos alunos do ensino profissional “dão belíssimas cartas” no ensino superior politécnico e universitário. O professor Diogo Afonso, há quatro anos no ensino profissional, concorda com esta visão. “O ensino profissional tem sido capaz de responder às constantes mudanças e exigências de uma sociedade em constante mutação e um mercado de trabalho cada vez mais instável”, refere ao EDUCARE.PT. “Ao longo dos anos, o ensino profissional tem conquistado um estatuto sólido resultado de todo o esforço e dedicação de todos aqueles que fazem parte integrante deste trabalho”, acrescenta. Depois de dois anos na Escola Secundária Santa Maria Maior, está há dois anos na Escola Profissional Profitecla, no polo do Porto, onde é coordenador do curso Auxiliar de Saúde. O futuro, em seu entender, passa por preparar jovens para a vida profissional, pelo desenvolvimento pessoal e cívico. Há formação específica para os alunos, há trabalho para preparar quem aprende a encarar desafios com esforço e perseverança, há também a possibilidade de adquirir habilitações académicas e competências profissionais que permitem prosseguir estudos no Ensino Superior. E há ainda a ligação das escolas com os parceiros que acolhem os alunos para formação em contexto de trabalho. E tudo é importante. “A imagem do ensino profissional tem vindo a mudar e hoje assume-se como uma alternativa positiva e verdadeira ao sistema regular de ensino, para jovens que procurem mais cedo ferramentas que lhes permitam adquirir competências para, o mais rapidamente possível, poderem integrar o mercado de trabalho cada vez mais competitivo”, sublinha. Para Diogo Afonso, o ensino profissional não pode ser considerado o parente pobre da qualificação dos jovens até porque há cada vez mais exemplos de formação de bons profissionais nessas escolas. “É importante dar continuidade a um projeto consistente, direcionado para os alunos de forma a promover o seu crescimento profissional, pessoal e socialmente responsável”, defende. E o sucesso deste ensino também é feito com alunos motivados, pais compreensivos e que encorajam os filhos, e docentes empenhados. “O professor deixa de ser apenas o transmissor de conhecimentos, para assumir o papel de orientador, motivador, facilitador da aprendizagem, reforçando a autoavaliação dos alunos e a avaliação formativa. Assume-se como um mentor pois tem a possibilidade de do ponto de vista pedagógico, inovar o currículo e direcionar o trabalho de acordo com as necessidades existentes”, refere. “Enorme contributo ao país” Moreira da Silva dá aulas de formação profissional há mais de 25 anos. Neste momento, colabora com a Escola Profissional Val do Rio, em Oeiras. Na sua opinião, a evolução do ensino profissional “tem sido notável” a vários níveis. Pelo reconhecimento das competências dos alunos, pelo esforço que as escolas têm feito na melhoria contínua dos seus serviços, pelo desempenho dos professores. “Os nossos clientes principais são os alunos”, diz ao EDUCARE.PT. “Um sistema sairá sempre valorizado pela quantidade e pela qualidade dos seus utilizadores”, acrescenta. O empenho de todos é importante. “Um sistema de educação só resultará bem, quando reconhecido pelos seus mentores, utilizadores e destinatários. E, hoje em dia, o ensino profissional presta um enorme contributo ao nosso país”. A ideia de que o ensino profissional é um parente pobre do ensino não faz sentido, em seu entender. Esse rótulo desapareceu. As escolas têm melhorado sistemas de ensino e espaços formativos, alargaram parcerias a outros países para partilhar boas práticas que melhoram e renovam serviços. Moreira da Silva substitui parente pobre por “parente maior”. “O foco no desenvolvimento de competências específicas em cada área, ao longo de três anos, possibilita aos alunos o acesso a uma profissão reconhecida. E ao poder aceder ao ensino superior”, refere. “As vantagens são muitas para os que procuram ser bons profissionais. E para os que necessitam de bons profissionais para as suas organizações”. “Outra grande evolução tem sido a comunicação entre as escolas profissionais, em que a ANESPO [Associação Nacional de Escolas Profissionais] tem sido o ‘cimento’ que promove o desenvolvimento do sistema de ensino profissional, com a colaboração e participação de todos”, comenta. O trabalho continua em prol de melhores cursos e de alunos mais bem formados. “A certificação dos sistemas de gestão das escolas, pela norma ISO 9001, bem como a monitorização de indicadores de desempenho, no sistema europeu EQAVET, são a prova real de que muitas escolas se encontram a trabalhar diariamente, na melhoria contínua dos seus serviços. Só podemos melhorar aquilo que conseguimos medir. E muitas escolas já têm alguns anos de experiência na monitorização de indicadores de sucesso da sua atividade principal: o ensino”. O professor deixa uma sugestão. Além da dupla certificação, escolar e profissional, poder-se-ia promover também o acesso a uma tripla certificação. Ou seja, explica, “a certificação de mercado seria a terceira certificação. Tal como temos no exemplo das áreas das TIC, em que existe a regulação de certificação regulada internacionalmente pela associação sem fins lucrativos CompTIA. Exemplos como certificação CISCO, Microsoft, HP, entre outras, seriam certamente um garante de reconhecimento adicional para os nossos alunos, mesmo a nível internacional”. Hugo Sá está no ensino profissional há 10 anos. É professor da área técnica dos cursos de Turismo e de Restauração, variante Mesa e Bar, na Escola Profissional Profitecla, no polo de Braga. Um dos sinais de que este ensino deixou de ser o parente pobre do sistema é a idade média dos alunos que procuram esta via de estudo. Se há uns anos, a idade rondava os 17, 18 anos, agora há jovens que acabam o 9.º ano e ingressam no ensino profissional com 16 anos e como primeira escolha. Hugo Sá destaca alguns fatores que levam ao aumento da procura e que mostram o ensino profissional como, sustenta, “uma forma muito estruturada de alguém procurar um futuro”. “O mais importante é a aposta clara que as escolas fazem na qualidade da formação, no reforço dos quadros”, refere ao EDUCARE.PT. O desempenho de quem ensina, sobretudo nas áreas técnicas, é fundamental nesses estabelecimentos de ensino. Mas há mais fatores. A crise económica também mudou a maneira de pensar de muitas famílias. Antecipar a entrada no mercado de trabalho “de forma estruturada” tornou-se então uma opção viável. “Muitas famílias procuram uma saída profissional digna para os seus filhos”, sublinha. A necessidade de o país ter quadros intermédios também ajuda o ensino profissional a ser olhado com respeito. O que nem sempre aconteceu. Hugo Sá lembra-se desse tempo em que este ensino era visto como o parente pobre do sistema e que estava sobretudo destinado aos alunos que não tinham capacidade para concluir o ensino regular. “Era uma alternativa mais fácil porque, de certa forma, era mais prática”. “Era como um cesto onde tudo vinha parar”, recorda. Ideias que já fazem parte do passado. Sara R. Oliveira - EDUCARE «http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=117942&langid=1» Entrevista com o filósofo Mario Sergio Cortella concedida à Revista Crescer onde ele deixou claro que o grande desafio da atualidade é acompanhar as transformações para não ficar para trás. Sim, estamos vivendo um tempo de reviravoltas sem precedentes: na tecnologia, no trabalho, nas relações. Nesse contexto, mudar não é apenas imprescindível, mas inevitável. Principalmente quando se fala em educação. Como essa mudança tão veloz de paradigmas tem afetado a forma como os pais criam os filhos?
“Uma parte das famílias acabou perdendo um pouco a referência dada à velocidade das mudanças e à rarefação do tempo de convivência com as crianças. Isso fez com que muitas acabassem terceirizando o contato com os filhos e delegando à escola aquilo que é originalmente de sua responsabilidade. Só que isso perturba a formação das novas gerações. É claro que criar pessoas dá trabalho e exige esforço. Acontece que, no meio de todas essas mudanças, alguns pais e mães ficam desorientados. Por isso, é necessário que eles encontrem apoio, em livros, revistas, grupos de discussão. Não é só a educação dos filhos que é necessária, mas a dos pais também”. Ao mesmo tempo que muitas famílias terceirizam os cuidados, há um movimento de mães e pais largando a carreira para se dedicar exclusivamente aos filhos, não?“Claro. Uma das coisas mais importantes na vida é entender que a palavra prioridade não tem “s”. Não tem plural. Se você disser: “tenho duas prioridades” é porque não tem nenhuma. Então, deve estabelecer qual é a sua prioridade. Sua prioridade é o convívio familiar? Então dê força a isso. É a sustentação econômica? Vá fundo. Só que, ao escolher, não sofra. É evidente que ninguém precisa abandonar a carreira em função da família, mas é necessário buscar o equilíbrio – da mesma forma como se faz para andar de bicicleta: só há equilíbrio em movimento. Se você parar, desaba. Tenha em mente que haverá momentos em que a família é o foco. Em outros, a carreira. Mas lembre-se de que a vida é mais como maratona do que como uma corrida de 100 metros rasos: você não sai disparado feito um louco. Tem horas que vai mais rápido, outras em que desacelera. O segredo é ir dosando”. Você diz que, em um mundo de mudanças, nem tudo o que é antigo é velho. Como saber o que está ultrapassado na criação dos filhos?“No convívio familiar, uma coisa que é antiga, mas não é velha, é o respeito recíproco. Outra é a capacidade de o adulto saber que a criança é “subordinada” a ele, ou seja, que está sob as suas ordens. O pai não pode se tornar refém de alguém que ele orienta e cria. Agora, uma coisa que é velha e que deve ser descartada é o autoritarismo, a agressão física, o modo de ação que acaba produzindo algum tipo de crueldade. Isso é velho e é necessário, sim, mudar. Na relação de convivência em família é preciso modificar aquilo que é arcaico. O que não dá para perder é a honestidade, a afetividade e a gratidão. Tudo isso vem do passado e tem que continuar”. E como os pais podem construir essa autoridade sem autoritarismo?“O pai e a mãe têm que saber que ele ou ela é a autoridade. Ao abrir mão disso, há um custo. Quem se subordina a crianças e jovens, e têm sobre eles alguma responsabilidade, está sendo leviano”. Mas você acha que dá para ser amigo dos filhos?“Claro. O que não pode é ser íntimo no sentido de perder a sua autoridade. Eu tenho amizade com os meus alunos, mas isso não retira a autoridade nem a responsabilidade que eu tenho sobre eles como professor. Há uma frase que precisa ser deixada de lado que diz que ‘o amor aceita tudo’. Isso é uma tolice. O amor inteligente, o amor responsável é capaz de negar o que deve ser negado. A frase certa é: ‘Porque eu te amo é que eu não aceito isso de você’. O amor que tudo aceita é leviano, irresponsável”. Atualmente, se joga muita responsabilidade na escola. Qual é o limite entre os deveres dos pais e dos professores na educação das crianças?“É uma coisa estranha: a escola fica quatro ou cinco horas com as crianças, em um dia que tem 24 horas, com 30 alunos juntos. É um estabelecimento que deve ensinar a educação para o trabalho, educação para o trânsito, educação sexual, educação física, artística, religiosa, ecológica e ainda português, matemática, história, geografia e língua estrangeira moderna. Supor que uma instituição com essa carga de atividade seja capaz de dar conta daquilo que uma mãe ou um pai é que tem que ensinar a um filho ou dois é não entender direito o que está acontecendo. A função da escola é a escolarização: é o ensino, a formação social, a construção de cidadania, a experiência científica e a responsabilidade social. Mas quem faz a educação é a família. A escolarização é apenas uma parte do educar, não é tudo. Já tem personal trainer, personal stylist, agora querem personal father, personal mother. Não dá, é inaceitável”. Por outro lado, os pais interferem demais na escola?“Há uma diferença entre interferir e participar. A escola tem que ser aberta à participação. Quando há uma interferência é sinal de que está mal organizado. O que acontece nas escolas particulares, que são minoria e representam apenas 13% do total, é que muita gente não lida mais com a relação família versus escola como parceria. É mais como se fosse um relacionamento regido pelo Código do Consumidor, como um cliente, como se o ensino fosse o mesmo que a aquisição de um carro. Essa relação é estranha e precisa ser rompida”. A educação de gênero tem gerado repercussão no meio escolar. Como você acha que as escolas devem abordar esse tema?“Uma sociedade que não é capaz de atender à diversidade que a vida coloca é uma sociedade tola. É preciso lembrar que a natureza daquilo que é macho e fêmea está na base biológica, mas o gênero se constrói na convivência social. O macho e a fêmea vêm da biologia. Mas o que define masculino e feminino é aquilo que vai se construindo no dia a dia. Por isso a escola tem que trazer o tema. É claro que não vai incentivar uma discussão que seja precoce para crianças de 8, 9, 10 anos. Mas também não vai fazer com que aquele que é diferente seja entendido como estranho. Aquele que é diferente é apenas diferente, não é estranho. Nessa hora, é tarefa da escola acolher. Se a família não concorda e a escola é privada, mude a criança de escola. Agora, se for uma instituição pública, é um dever constitucional e republicano admitir a diversidade”. Portal Raízes - Naíma Saleh «http://www.portalraizes.com/educar-tambem-os-pais-mario-sergio-cortella/» |